sábado, 3 de junho de 2017

“Caixa-preta do BNDES deu prejuízo de R$ 50 bi”




Prestes a ser votado, projeto de senador acaba com o sigilo nos empréstimos do banco. Financiamentos suspeitos são alvo da Lava Jato
ENTREVISTA
O Senado está a um passo de implodir a “caixapreta” de contratos sigilosos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Autor de um projeto de lei que derruba o segredo de empréstimos bilionários do banco público federal a grandes empresas hoje investigadas na Operação Lava Jato, o senador Lasier Martins (PSD-RS) trabalha nos bastidores para a Casa votar com urgência a matéria. Ele calcula em R$ 50 bilhões o rombo em operações irregulares e em calotes dados por companhias nas transações e financiamentos suspeitos.
É constante a pressão do senador sobre o presidente Eunício Oliveira (PMDB), mas a nova regra sempre volta para o fim da fila da pauta. Nesta entrevista, Lasier detalha fraudes investigadas, critica a falta de fiscalização e controle que resultaram nos prejuízos revelados e aponta pressões na saída da rígida presidente Maria Silvia Bastos.
O que motivou sua iniciativa legislativa de quebrar o sigilo de contratos de empréstimos do BNDES?
Desde a campanha prometia dois projetos prioritários. Um deles é mudar a sistemática de indicação dos ministros do Supremo Tribunal Federal, muito politizado. E o outro projeto seria tentar abrir a caixa-preta do BNDES, porque se ouve falar mal do BNDES há uma década. É um banco de fomento com dinheiro público para investir no desenvolvimento do país, e tem sentido social. Entretanto, há muito o BNDES vinha financiando mais obras no exterior do que no Brasil, que tanto precisa de estradas, aeroportos, usinas.
E a suspeita de corrupção em obras no exterior?
Aí se investia em Moçambique, Angola, Cuba, Venezuela, Bolívia, Peru. Então, eu me inquietei com esta desconformidade e fiz este projeto. Tramitou dois anos, e na semana passada foi prometida a colocação do requerimento de urgência no plenário do Senado, só que, até agora, Eunício não colocou em votação. Não quero segredo nos financiamentos para empresas.
E porque há segredo? É pressão das empresas? É indício de irregularidades?
Em primeiro lugar, porque o sigilo bancário está na Constituição. Mas, quando envolve verba pública, há farta doutrina de que deve ser aberto, principalmente de investimentos no exterior. E tem-se feito o mais rigoroso segredo nos casos do porto de Cuba, em investimentos em Angola altamente suspeitos. Lula aproveitou para financiar obras, sempre pra cima e pra baixo no jatinho do Marcelo Odebrecht, em países de semiditadura, onde fazem licitações fajutas, frias. Há desvios enormes.
Como ocorreram os prejuízos com empresas brasileiras beneficiadas?
A verba que liberaram para o Eike Batista, de repente o homem mais rico do Brasil, levantou suspeita de havia fraude naquilo. A verba investida na JBS é verdadeira fortuna, R$ 8,3 bilhões, a tal ponto que o BNDESPar acabou se tomando sócio! Não é finalidade do banco ser sócio, e sim financiar, fomentar. O BNDES deve R$ 2,3 bilhões para a Previdência, como é que deixam? Aliás, na lista dos maiores devedores do Brasil entre as empresas ativas, a JBS é a primeira. Lojas Arapuã, frigorífico Marfrig, empresas que levaram nosso dinheiro e ou estão em recuperação judicial, ou estão falidas.
E o rombo de quem vai para a insolvência e não tem condição de arcar com os empréstimos, fica por conta do contribuinte pagar? O senhor já citou a Oi, a LBR, a Odebrecht, JBS...
Exatamente. A Oi é misto de fracasso e de ter sido enganada pela Telecom portuguesa, que deu calote. A responsabilidade é do BNDES de não ter se cercado de todas as garantias. Estou batalhando e estranhando a demora pai a colocar em votação no plenário. Precisamos dar um basta no segredo nos financiamentos.
Tem estimativa do rombo que o BNDES tomou nessas útimas operações?
Olha, no mínimo, cerca de R$ 50 bilhões, somados todos os prejuízos.
A presidente Maria Silvia Bastos está saindo do banco, sucedida por Paulo Rabello de Castro. Essa mudança de comando tem relação com essas supostas irregularidades?
Maria Silvia justificou motivos pessoais, o que é muito amplo, não quer dizer nada. Analistas do setor dizem que ela saiu porque não aguentava mais as pressões e queria segurar um pouco estes financiamentos. Foi se incomodando muito e preferiu sair. Esperamos que Rabello de Castro siga linha rigorosa no sentido de proteger o dinheiro público.
Mas o Parlamento não poderia fiscalizar essas operações? O BNDES não tem conselhos internos que fazem avaliação prévia desses empréstimos?
Obrigação o Senado tem, mas é impressionante a dificuldade que opõem a esta fiscalização. É difícil até trazer uma autoridade a uma comissão. Por que a Controladoria Geral da União e o Tribunal de Contas da União não fiscalizaram? É um fracasso, é um caos esses órgãos fiscalizadores. Precisamos mudar esse panorama. O Brasil vem de uma deterioração não apenas ética, mas de falta de compromisso das autoridades.
RONDINELLI TOMAZELLI, em A Gazeta/ES


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Nikolai Gogol: O inspetor geral.



livro contém o texto original de Nicolai Gogol, a peça teatral “O inspetor Geral”. E mais um ensaio e 20 artigos discorrendo sobre a realidade brasileira à luz da magnífica obra literária do grande escritor russo. Dessa forma, a Constituição brasileira, os princípios da administração, as referências conceituais da accountability pública, da fiscalização e do controle - conteúdos que embasam a política e o exercício da cidadania – atuam como substrato para o defrontar entre o Brasil atual e a Rússia dos idos de 1.800.

Desbravar a alma humana através de Gogol é enveredar por uma aventura extraordinária, navegar por universos paralelos, descobrir mundos mantidos em planos ocultos, acobertados por interesses nem sempre aceitáveis.

A cada diálogo, a cada cena e ato, a graça e o humor vão embalando uma tragédia social bastante familiar a povos de diferentes culturas, atravessando a história com plena indiferença ao tempo.

O teatro exerce este fascínio de alinhavar os diferentes universos: o cáustico, o bárbaro, o inculto que assaltam a realidade, que obliteram o dia a dia; e o lúdico, o onírico, o utópico-fantástico que habitam o imaginário popular.

O inspetor geral” é um clássico da literatura universal. Neste contexto, qualquer esforço ou tentativa de explicá-lo seria tarefa das mais frívolas e inócuas. E a razão é simples, frugal: nos dizeres de Rodoux Faugh “os clássicos se sustentam ao longo dos tempos porque revestem-se da misteriosa qualidade de explicar o comportamento humano e, ao deslindar a conduta, as idiossincrasias e o caráter da espécie, culminam por desvendar a própria alma da sociedade”.

Esta é a razão deste livro não aspirar à crítica literária, à análise estilística e, sim, possibilitar que o leitor estabeleça relações de causa e efeito sobre os fatos e realidade que assolavam o Império Russo de 1.800 com os que amarguram e asfixiam o Brasil dos limiares do século XXI.

Do início ao final da peça teatral, as similaridades com o Brasil atual inquietam, perturbam, assustam... Caracteriza a literatura clássica o distanciamento da efemeridade, o olhar de soslaio para com o passadiço pois que se incrusta nos marcos da perenidade. Daí a dramaturgia de Nicolai Gogol manter-se plena de beleza, harmonia, plástica, humor e atualidade.

Nesta expedição histórica, a literatura de um dos maiores escritores russos enfoca uma questão que devasta a humanidade desde os seus primórdios, finca âncoras no presente e avança, insaciavelmente, sobre o futuro. O dramaturgo, com maestria, mergulha nas profundezas do caráter humano tratando a corrupção, não como uma característica estanque, intrínseca exclusivamente à esfera individual, mas como uma chaga exposta que se alastrou para deteriorar todas as construções sociais, corroer as instituições e derrocar as organizações humanas.

É o mesmo contexto que compartilham Luís Vaz de Camões e Miguel de Cervantes, William Shakespeare e Leon Tolstoi, Thomas Mann e Machado de Assis.

Mergulhar neste mundo auspicioso e dele extrair abordagens impregnadas de accountability pública é o desafio estabelecido. É para esta jornada que o leitor é convidado de honra.

O livro integra a Coleção Quasar K+:
Livro 1: Quasar K+ Planejamento Estratégico;
Livro 2: Shakespeare: Medida por medida. Ensaios sobre corrupção, administração pública e administração da justiça;
Livro 3: Nikolai Gogol: O inspetor geral. Accountability pública; Fiscalização e controle;
Livro 4: Liebe und Hass: nicht vergessen Aylan Kurdi. A visão de futuro, a missão, as políticas e as estratégias; os objetivos e as metas.


Para saber mais sobre o livro "Nikolai Gogol: 
inspetor geral - Accountability pública; 
Fiscalização e controle", clique aqui.