terça-feira, 5 de julho de 2016

As eleições na américa latina e as fraudes, os hackers



A revelação é chocante. O colombiano Andrés Sepúlveda, um hacker de computadores que se encontra preso, cumprindo pena de dez anos por prática de espionagem, disse à revista Bloomberg Businessweek que por muitos anos executou uma série de golpes baixos em eleições latino-americanas. Geralmente a serviço do consultor político Juan José Rendón, um venezuelano radicado em Miami, Sepúlveda espionou e roubou dados da campanha de adversários e manipulou redes sociais. Uma das tarefas que desempenhou foi, segundo ele, hackear as comunicações dos adversários de Enrique Peña Nieto na eleição presidencial de 2012 no México.
      
Por mais perturbadoras que sejam as alegações de Sepúlveda, a afirmação é exagerada. O que o relato do hacker colombiano de fato mostra é que vem crescendo na região a influência dos marqueteiros e da tecnologia – e nem sempre essa influência é benigna.
      
Aumentou o grau de escolaridade dos eleitores, que passaram a se concentrar em centros urbanos, além de terem se tornado menos ideológicos – os índices de identificação partidária nunca foram tão baixos. Hoje, os eleitores latino-americanos compartilham ideias e preferências por meio das redes sociais, o que permite a políticos de fora do establishment tornarem-se mais conhecidos.
      
“A mídia e os políticos tradicionais têm cada vez menos influência” diz Jaime Durán Barba, um consultor equatoriano que ajudou Mauricio Macri a conquistar uma vitória inesperada na eleição presidencial da Argentina em novembro. Essas tendências beneficiam os marqueteiros políticos. Com a redemocratização por que passou a região na década de 1980, os marqueteiros proliferaram. “Há trinta anos, éramos uns dez”, diz Durán. “Agora, somos milhares.”
      
Os principais marqueteiros latino-americanos foram alçados à condição de quase celebridades – e são remunerados a peso de ouro. À direita do espectro político, Rendón trabalhou em diversas campanhas vitoriosas, incluindo a de Juan Manuel Santos na Colômbia e, a de Peña Nieto no México. À esquerda, o brasileiro João Santana, ganhou fama depois de ajudar Lula da Silva a conquistar um segundo mandato presidencial em 2006 e as vitórias de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Seu currículo ostenta a participação vitoriosa em quatro eleições presidenciais fora do Brasil – e o marqueteiro não nega a informação de que cobra mais de US$ 50 milhões por campanha. Em fevereiro, foi preso por suspeita – que ele diz não ter “fundamento algum” –de ter recebido pagamentos ilícitos da empreiteira Odebrecht na campanha de Dilma em 2014.
        
Os marqueteiros políticos tendem a ser arrogantes e temperamentais. Mas qual é seu verdadeiro impacto? “A pessoa pode fazer uma boa campanha, mas não faz milagres”, diz Elgarresta. “É o candidato que ganha ou perde”, concorda Durán. De qualquer forma, uma compreensão do eleitorado, a partir de pesquisas de opinião e entrevistas com grupos focais, aliada a uma boa estratégia e a uma propaganda eficaz, pode fazer a diferença. Os marqueteiros se queixam de que frequentemente os candidatos não sabem como fazer uso de seus serviços. Todos negam a prática de ações criminosas, como hackear adversários.
        
Daniel Zovatto, da organização intergovernamental Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (International IDEA), diz que os ciber ataques ainda são raros na América Latina. Mas a história de Sepúlveda é um alerta. A combinação de hacking com redes sociais significa que haverá “mais espaço para campanhas negativas e campanhas sujas (ou seja, ilegais)”, diz ele.

Do The Economist e Estadão 

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