sexta-feira, 28 de novembro de 2014


Lobão - Me Chama



10 números impressionantes para entender novo canal da Nicarágua


Canal cuja construção deve começar no mês que vem promete ser maior que o Canal do Panamá
Da BBC
 
O famoso canal do Panamá, que há 100 anos liga os oceanos Atlântico e Pacífico, está prestes a ganhar um concorrente à altura. Começa em 22 de dezembro a construção do Grande Canal da Nicarágua, obra cercada de números grandiosos, com inauguração prevista para 2020.

Mais longo, largo e profundo que o vizinho panamenho, o novo canal é obra do misterioso multimilionário chinês Wang Jing, de 41 anos. Presidente da gigante das telecomunicações Beijing Xinwei Telecom Technology Co., onde tem participação de US$ 1,1 bilhão, ele é o único representante conhecido da HKND Group (Hong Kong Nicaragua Canal Development), empresa que obteve a concessão da obra na Nicarágua.

O período de concessão prevê 50 anos pelos direitos de construir o canal e outros 50 para administrá-lo. O local deve ainda abrigar dois portos, um aeroporto, um centro turístico e um parque industrial.

O projeto, entretanto, enfrenta resistência de ambientalistas e comunidades locais. A preocupação são os impactos em comunidades pobres da região e em reservas naturais - o canal atravessará uma importante fonte de água e um lago, o que pode assorear rios locais.
Veja alguns dos números e cifras da obra:

US$ 50 bilhões

é o valor estimado para a construção do canal da Nicarágua, segundo a HKND.

50 mil pessoas

devem ser empregadas diretamente na obra, de acordo com a HKND.

200 mil empregos

indiretos também são estimados pelos responsáveis pela obra.

278 quilômetros

ou 3,5 vezes o tamanho do canal panamenho, é o comprimento previsto - o canal do Panamá tem 77 quilômetros.

41 anos

é a idade do multimilionário chinês Wang Jing, que vem sendo questionado por suposta falta de experiência em obras de engenharia desta magnitude.

US$ 1,1 bilhão

é a participação de Wang Jing na Beijing Xinwei Telecom Technology Co., empresa de telecomunicações em Pequim, na China.

230 a 520 metros

é a variação de largura prevista para o canal. Sua profundidade máxima deve ser de 27,6 metros.

5 anos

é o tempo previsto para a obra. No caso do Panamá, a construção durou 10 anos.

50 anos

é a duração prevista para a concessão dada pela Nicarágua a chinesa HKND, podendo se extender por mais 50.

8,624 km²

é a área de superfície do Grande Lago da Nicarágua. A rota do canal atravessará esta grande massa de água doce, a maior da América Central, o que desperta críticas de ambientalistas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014


Lulu Santos - Um pro outro



Cientistas advertem sobre possíveis danos da luta contra mudança climática


EFE | LONDRES
A aplicação de algum dos planos pensados para diminuir o fenônemo da mudança climática poderia ter consequências desastrosas para milhões de pessoas, apesar de serem necessários para salvar o planeta, advertiu nesta quarta-feira um estudo científico.
Essa é uma das conclusões extraídas por uma pesquisa conjunta desenvolvida por especialistas das universidades britânicas de Leeds, Bristol e Oxford sobre o que se conhece agora como geoengenharia ou engenharia climática.
Medidas podem ter consequências indesejadas. EFE
Medidas podem ter consequências indesejadas. EFE
A geoengenharia coloca modelos teóricos que, em algumas ocasiões, parecem extremos, como o que propõe "bombardear" a atmosfera com partículas de sulfato que, como um guarda-chuva, criariam sombra sobre a superfície terrestre e ajudariam a diminuir a temperatura.
Outros teóricos deste campo propõem "fertilizar" o oceano com ferro para favorecer que as algas absorvam dióxido de carbono, ideias que frequentemente foram alvo de críticas, por exemplo, de organizações ambientalistas.
Neste contexto está o estudo das três universidades citadas, que aspira explorar em mais detalhe os efeitos dessas teorias e oferecer fatos científicos.
Em entrevista à emissora "BBC", um de seus autores, Matt Watson (Universidade de Bristol), disse que, na realidade, as questões que rodeiam a geoengenharia -como poderia ser útil ou quais são seus pontos a favor e contra- "são muito, muito complicadas".
"Não gosto da ideia, mas cada vez estamos mais convencidos de que temos que investigá-la. Pessoalmente, estas coisas me parecem aterrorizantes, mas será preciso decidir se é melhor não fazer nada, seguir igual e chegar a um mundo com uma alta da temperatura de 4 graus centígrados", reconheceu o especialista.
Para sua pesquisa, os cientistas recorreram a modelos informáticos que simulavam os efeitos que poderia chegar a ter o uso de diferentes tecnologias no marco da aplicação de uma teoria da geoengenharia.
Um dos achados mais significativos é que nenhum dos cenários imaginários colocados mostrou que a temperatura média do planeta voltaria a se situar nos níveis registrados entre 1986 e 2005, o que sugere que, talvez, a aplicação de um determinado fato deve se prolongar mais no tempo.
Em outra instância, os cientistas acharam evidências de que a aplicação de alguma dessas teorias da engenharia climática poderia provocar graves mudanças no regime de chuvas, o que poderia ter um efeito catastrófico para milhões de pessoas.
Por exemplo, o simulador informático para provar a chamada "gestão da radiação solar", que bloquearia os raios do sol, demonstrou que essa técnica poderia reduzir a temperatura global, mas exerceria profundas mudanças nas precipitações durante a monção.
"Descobrimos que entre 1,2 bilhão e 4,1 bilhões de pessoas poderiam ser negativamente afetadas por mudanças nos regimes de chuvas", apontou o Piers Forster, da Universidade de Leeds.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014


Paulinho da Viola - Sinal Fechado (Acústico MTV)



Criminalidade ameaça as democracias na América Latina

Pesquisa feita em 28 países mostra que a insegurança é o principal fator de instabilidade

                                          Enterro da Miss Honduras, encontrada morta na quarta-feira passada. / STR (EFE)

Por VICENTE JIMÉNEZ, no El País

A violência e a criminalidade constituem os principais fatores de instabilidade para as democracias da América Latina, por solapar a credibilidade das instituições junto aos cidadãos, os quais em geral se inclinam por políticas de pulso firme e baixa qualidade democrática, que podem desembocar em violações de direitos fundamentais. Essa é uma das principais conclusões do Barômetro das Américas 2014, uma pesquisa realizada pelo Projeto Opinião Pública da América Latina, da Universidade Vanderbilt.
Latino-americanos estão muito mais preocupados com a violência do que há dez anos
O relatório preliminar apresentado na segunda-feira em Nova York, com base em 50.000 entrevistas feitas em 28 países, aponta que a persistência da criminalidade e da violência na América Latina e Caribe conduzem a “democracias em risco”, nas quais ganham terreno a centralização do poder e, nos casos mais extremos, as soluções populistas, ilegais ou violentas, como os grupos paramilitares, as patrulhas populares ou a condescendência com os linchamentos públicos.
A América Latina e o Caribe experimentaram avanços em suas economias na última década. O número de pessoas que vivem com menos de 2,50 dólares por dia caiu pela metade, e a classe média cresce. Mas os desequilíbrios continuam sendo enormes (80 milhões de latino-americanos vivem na pobreza extrema), e mais de 40% acreditam que a economia do seu país piorou no último ano. Certo pessimismo, unido à sensação de insegurança, estende-se pelo continente, o que provocou um retrocesso nos indicadores de legitimidade democrática desde 2012.
Os pesquisadores Mitchell Seligson e Elizabeth Zechmeister, da Universidade Vanderbilt, apresentaram os dados. “Somos acadêmicos, não políticos. Claro que os Governos da América Latina têm ferramentas melhores que nós para adotar políticas que solucionem esses problemas”, comentaram eles na sede da instituição Sociedade das Américas/Conselho das Américas.
Se há uma tendência clara ao longo da última década nas Américas é a de seus cidadãos se preocuparem muito mais com a criminalidade do que há dez anos. Um em cada três pesquisados considera que esse é o problema mais importante que o seu país enfrenta. Do total de entrevistados, 17% já foram vítimas de algum crime, uma cifra que permanece constante desde 2004, e cerca de 40% admitem ter medo de andar por certas áreas do seu próprio bairro. É um problema urbano.
A América Latina e o Caribe têm a maior taxa de homicídios do mundo: 23 assassinatos a cada 100.000 habitantes em 2012, segundo dados das Nações Unidas. É mais do que o dobro da taxa na África Subsaariana (11,2 homicídios a cada 100.000 pessoas), a segunda região nesse ranking. Um em cada três homicídios no mundo ocorre na América, e 30% deles estão relacionados à atuação de quadrilhas. A América Central supera a média, com 34 homicídios a cada 100.000 habitantes. Na América do Sul, a taxa é de 17.
Há uma década, a economia era, com uma ampla vantagem, o que mais preocupava a população (60,3%), com a segurança em segundo lugar (22,5%). Desde 2004, o panorama mudou. A economia é vista agora como a principal preocupação para 35,8%, seguida de perto pela criminalidade (32,5%). O Peru (com 30,6% dos entrevistados), o Equador (27,5%), a Argentina (24,4%) e a Venezuela (24,4%) são os países onde mais pessoas declararam ter sido vítimas de algum crime.
O medo na América Latina está em seu ponto mais alto na última década. Um total de 40% dos entrevistados admite evitar certas áreas de sua vizinhança, outros 35% têm uma sensação de insegurança nos meios de transporte públicos, e 37% nas escolas. Nesses dois últimos quesitos, a Venezuela está à frente dos demais países. A violência também influencia no desejo de emigrar, que aumentou em 2014 em relação aos anos anteriores.
Metade dos entrevistados expressa sua insatisfação com os organismos de segurança. A Bolívia, a Venezuela, o Peru, o Haiti e o México são os países onde, nessa ordem, as forças de segurança têm a pior imagem. Um em cada três entrevistados relata que sua polícia demora pelo menos uma hora para atender a uma denúncia de roubo ou, simplesmente, não aparece.
O ano de 2014 marca o ponto em que a confiança nos tribunais cai a seu nível mais baixo na última década. A sensação de impunidade cresce na região. Venezuela, Brasil, Chile, Bolívia, Peru e México são os países nos quais os cidadãos mais registram essa percepção.
América Latina e Caribe têm a maior taxa mundial de homicídios
Consequentemente, 55% dos entrevistados são partidários de políticas duras para determinados crimes, contra os 29% que preferem políticas preventivas. São comuns os relatos sobre linchamentos em alguns países ou sobre formas de autodefesa, como ocorre no México. Em relação à pesquisa de 2012, a tendência a recorrer a soluções desse tipo passou de 28,9 para 32, em uma escala até 100.
A percepção em relação à corrupção não melhorou. Um em cada cinco entrevistados pagou algum tipo de propina nos últimos 12 meses. Cerca de 80% deles consideram que a corrupção é comum ou muito comum em seus Governos.
O Barômetro mostra um apoio indiscutível ao sistema democrático como forma de Governo, mas esse sentimento também sofreu uma queda a seus níveis mais baixos em 10 anos. Na sondagem de 2012, esse critério atingia 71 pontos sobre 100. Neste ano, caiu para 69 sobre 100. As Forças Armadas e a Igreja Católica são as instituições com mais apoio na região. Os que menos recebem apoio são os parlamentos e, principalmente, os partidos políticos.

terça-feira, 25 de novembro de 2014


Baby do Brasil canta "Menino do Rio" com Caetano Veloso



No curto prazo, nada pode ser feito pela seca no sudeste, afirma futuro relator da ONU


Para o mineiro Léo Heller, futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico, crise hídrica não tem solução imediata a não ser chuva e redução do consumo.


Da Deutsche Welle

A crise hídrica no sudeste não tem solução a curto prazo a não ser chuva e redução do consumo, afirma Léo Heller, futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico.

A partir de 1º de dezembro, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai substituir a portuguesa Catarina de Albuquerque na ONU. O mandato dura três anos e pode ser renovado pelo mesmo período.

"Já estão adotando todas as medidas necessárias e usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar em outras soluções", afirmou Heller, em entrevista à DW Brasil.

Caso não chova nos próximos meses, alerta o engenheiro, a situação pode ficar "dramática".

Ele considera que o volume de água desperdiçada ao longo do sistema de abastecimento brasileiro "não é admissível". "Ao invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução dessas perdas."

Heller é cauteloso ao falar do tratamento do esgoto para transformação em água de reúso.

Recentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou a construção de uma estação que irá empregar a técnica, com o objetivo de aumentar a oferta de água.

DW Brasil: O que o senhor acha que poderia ter sido feito para minorar a seca no sudeste?


Léo Heller: Deveria ter tido um planejamento mais adequado, que levasse em conta a possibilidade de estiagem, que é um fenômeno natural e sazonal. Esses momentos precisam ser incluídos no planejamento. Os atuais mananciais e captações de água têm sido insuficientes para atender a demanda, isso requer aumentar e diversificar as fontes de água, não só quantitativamente, mas qualitativamente. Isso inclui água subterrânea e de chuva, por exemplo.

E do ponto de vista da demanda?
É preciso reduzir as perdas no sistema de abastecimento de água. Além disso, poderíamos consumir menos água com mudanças nos hábitos da população e com equipamentos mais econômicos, como a descarga dual (com dois botões, um para resíduos sólidos e outro para líquidos). Algumas cidades estão incentivando a captação da água da chuva no nível domiciliar para alimentar a descarga dos vasos sanitários. É uma solução muito inteligente, porque usamos uma água de altíssimo padrão, sem necessidade. E é onde mais se consome água nos domicílios.

O que pode acontecer caso não chova nos próximos meses no sudeste?
A situação ficaria dramática e precisaríamos intensificar o racionamento. Eu prefiro pensar no longo prazo, que os gestores tomem as providencias necessárias para que, no próximo verão, isso não volte a acontecer.

Então, no curto prazo, não tem muito o que possa ser feito...
Não, não tem. Exceto campanhas para que as pessoas economizem. Já estão adotando todas as medidas necessárias e usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar em outras soluções.

Que medidas preventivas poderiam ter sido tomadas para economizar água?

Deveríamos ter feito gestão da demanda, trabalhado para diminuir o consumo de água, com campanhas contra o desperdício e combate às perdas. A redução da pressão também ajuda a diminuir o consumo. Todas essas medidas deveriam ter sido tomadas preventivamente.

Como o senhor vê a tentativa transferir água do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira?
A transferência de água de uma bacia para alimentar a captação de outra, se for realizada e gerenciada de forma inteligente, pode ser uma solução. Desde que, obviamente, essa transferência não comprometa a água da bacia doadora. Aparentemente, estudos desenvolvidos pela própria ANA [Agência Nacional de Águas] mostram que isso não colocaria em risco o abastecimento dos outros estados. Mas isso precisa ser feito com muito cuidado.

Há uma mentalidade de que a água é um recurso infinito. Essa crise hídrica pode mudar isso?
A crise no sudeste alerta para a necessidade de uma mudança de paradigma da gestão de água. Ela não é infinita e ela não tem um volume constante ao longo do ano e das décadas. Alguns autores falam que o abastecimento de água deve mudar de uma lógica linear - captação, uso e descarte - para uma lógica mais circular, com o reúso e outras fontes. Precisamos sair de uma acomodação e investir não só em novas obras, mas na modernização da gestão. É muito possível que uma parte do problema atual tenha origem nas mudanças climáticas globais, o que sinaliza que esse fenômeno pode ocorrer com mais frequência.

O que o senhor acha da proposta de multar pessoas que, por exemplo, seguem lavando carros e calçadas com mangueira, apesar da seca?
Associada a um conjunto de medidas, a multa pode ter efeito. Isoladamente é quase uma transferência de responsabilidade, como se os culpados fossem os usuários e o gestor não tivesse nenhuma responsabilidade. Isso não é correto. De certa forma, os modelos de tarifação de água hoje já incluem essa lógica, porque quem consome muito paga mais pelo metro cúbico. Só que esse modelo tarifário se demonstrou incapaz de coibir esse tipo de desperdício. Mas nós não temos ainda condições empíricas para dizer que as multas contribuiriam a redução do consumo. Pode ser que um proprietário muito rico concorde em pagar mais para continuar desperdiçando.

Estudiosos têm alertado para o desmatamento ao redor de represas, como o Cantareira, e mesmo na Amazônia, como um dos agravantes da seca. O senhor concorda que se dá pouca importância a esse fator no gerenciamento da água?
Sem dúvida. Os profissionais da hidrologia sabem muito bem disso. Não é apenas o desmatamento ao redor das represas que tem impacto, mas nas bacias hidrográficas inteiras. Quando há alterações importantes, no sentido de remover vegetação, ampliar a urbanização e iniciar práticas agropecuárias, a bacia perde sua capacidade de armazenar água. Ou seja, em época de estiagem, a vazão dos rios vai ser cada vez menor. As bacias no sudeste são muito afetadas pela ação do homem, isso certamente explica parte do que está ocorrendo. Em relação à Amazônia, esse impacto ainda carece de uma comprovação mais firme.

Recentemente, o governo de São Paulo anunciou a construção de uma estação que para fazer o reúso do esgoto. O Brasil está avançado em relação ao reaproveitamento da água em comparação com outros países?
Nós estamos muito atrasados. Há várias formas de reúso, como reaproveitar a água para a irrigação ou para o vaso sanitário. Essa de transformar o esgoto em água potável é a mais radical. Existem tecnologias para isso, sim, mas são mais sofisticadas e nós estamos menos habituados a operá-las. É preciso muito cuidado, porque qualquer falha no processo pode levar a uma insegurança sanitária da população. E as falhas são possíveis em um processo novo, quando não temos mão de obra qualificada para isso. Tem que ter um controle muito fino ou podemos trazer risco para a população.

O senhor mencionou o reúso domiciliar, mas o que poderia ser feito em larga escala?
É possível pensar em grandes reservatórios de água de chuva para usos menos nobres. O problema é que muitas vezes esse reúso implica uma grande reformulação dos sistemas, tanto públicos, quanto domiciliares. Alguns países têm rede dupla na rua, uma para água mais pura e outra mais impura. Em uma cidade que já esteja totalmente consolidada, essa transformação é muito penosa. O que parece mais viável são pequenas mudanças em nível domiciliar, mais do que municipal. A tecnologia existe para qualquer tipo de reúso, mas precisamos observar a segurança sanitária, a viabilidade técnica e econômica.

O Brasil tem uma taxa alta de perda de água ao longo do sistema. O que pode ser feito em relação a isso?
Temos uma taxa média nacional de perdas na distribuição de 37%, segundo o SNIS [Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento]. É bem alta. Dificilmente chegaria a zero, mas os engenheiros trabalham com uma meta de 25%. Abaixo disso, costuma ser pouco viável economicamente. Ao invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução desse desperdício. Para isso, faltam investimentos públicos e um programa de controle de perdas mais efetivo. Existem incentivos do governo federal, mas muitas vezes os gestores se acomodam e preferem fazer novas obras de infraestrutura do que trabalhar nesse ajuste fino, que requer um trabalho de detetive e dá pouca visibilidade. Do ponto de vista ético, não é admissível perder tanta água no sistema.

O que o senhor, como brasileiro, acha que o nosso país pode contribuir nesse debate sobre água e esgoto no mundo?
O Brasil avançou muito nos seus marcos legais e institucionais, isso pode ser um exemplo interessante. Nós temos agora uma lei nacional que estabelece a regulação da prestação do serviço de água e esgoto, além de um plano nacional e uma estrutura no governo que cuida disso. Também tem havido certa estabilidade nos financiamentos públicos federais para a área. Esse conjunto de medidas terá efeitos de longo prazo, elas prepararam o país para avançar muito na ampliação do acesso ao saneamento.

A maior parte dos brasileiros não tem acesso a tratamento de esgoto. Quais são os desafios para a universalização desse serviço?
Sem dúvida isso tem avançado lentamente, mas tem avançado. O Plano Nacional de Saneamento Básico dá prioridade a isso. A ideia hoje é não implantar nenhum sistema de coleta de esgoto sanitário que não tenha tratamento. Isso já vem sendo feito, mas nós temos um passivo muito grande e superá-lo é um desafio enorme.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014


Luiz Melodia - Pérola Negra, Juventude Transviada, Negro Gato



'Bosque suspenso' de Milão pode indicar futuro arquitetônico das metrópoles

    Bosco Verticale (divulgação)
Condomínio recebeu o “prêmio Nobel” da arquitetura dedicada aos arranha-céus
Por Guilherme Aquino, na BBC

O condomínio Bosco Verticale (Bosque Vertical) localizado próximo ao centro histórico de Milão, no norte da Itália, venceu o International Highrise Award - considerado o "prêmio Nobel" da arquitetura dedicada aos arranha-céus.

Suas duas torres, com 80 e 112 metros de altura, se assemelham a gigantescos troncos de árvores. E seus apartamentos surgem como "raízes" para os ramos e os galhos, em um projeto que vem sendo elogiado por proporcionar uma espécie de simbiose entre o homem e a natureza, num ambiente hostil ao verde, ou seja, as metrópoles.

O Bosco Verticale venceu 800 concorrentes de 17 países diferentes na premiação, que é concedida pelo Museu de Arquitetura de Frankfurt, na Alemanha.

A premiação leva em conta critérios como inovação, sustentabilidade, fachada, qualidades internas e aspectos sociais ligados ao contexto urbano e à criação de um design pioneiro.

"Este é um projeto maravilhoso que confirma a grande necessidade do homem de ter o verde ao seu redor", afirmou o relator do prêmio e vencedor da edição passada, Christoph Ingehoven, aos ganhadores Stefano Boeri, Gianandrea Barreca e Giovanni la Varra.

Skyline

A construção das torres chama atenção no horizonte milanês, marcada por um novo skyline, com arranha-céus espelhados na zona de Porta Nuova, que foi recentemente reurbanizada.

A expectative é a de que o condomínio represente uma espécie de abre-alas de uma nova tendência arquitetônica.

"A ideia nasceu em Dubai, em 2007. Percebi como uma ‘explosão’, a presença de 30, 40 torres de vidro temperado, diante do meu grupo de estudantes. Começamos a imaginar, a raciocinar sobre a possibilidade de revestir tudo com plantas, ao invés de vidro. Mas não apenas com plantas ornamentais. Mas com árvores verdadeiras, de 3, 5, 6, 9 metros de altura. Este projeto é uma casa de árvores onde moram os humanos", disse o arquiteto Stefano Boeri para a BBC Brasil.
Prédio em Milão
Prédio acabou mudando o skyline da cidade italiana
Os dois edifícios-protótipos levaram cinco anos para sair da planta. Foi necessária uma complexa e cara pesquisa para criar um sistema de irrigação – com a água do lençol freático- e, principalmente, ancorar bem as árvores e evitar que as fortes correntes de vento, naquela altura, provocassem maiores riscos.
"O morador não tem que regar as plantas. Uma central computadorizada se encarrega desta tarefa quando for preciso. As árvores foram presas numa espécie de rede de ferro saldada na estrutura. Elas são um bem comum e pertencem a todos", afirma Stefano Boeri.

Árvores

Na realidade, as árvores fazem parte da estrutura do prédio, devido ao peso e ao posicionamento. E para a sua distribuição pelas quatro fachadas de cada torre, dentro de tanques especiais, foram feitos testes em duas galerias do vento: uma em Miami, nos Estados Unidos, e outra no Politécnico de Milão, onde o arquiteto Stefano Boeri é também professor.

Elas são o carro-chefe de uma flora composta de 800 árvores, 5.000 arbustos, 11.00 plantas menores, de uma simples camélia a uma magnólia passando pela oliveira, jasmim e acácia, entre outras. Tem lugar até para as trepadeiras. De noite, a iluminação projeta ,nos tetos das varandas e dos terraços, as sombras dos galhos e das folhas e garante um belo efeito visual.

Todas as mudas foram escolhidas na primavera de 2010 e cultivadas nos viveiros até o momento da "transferência" na nova casa. "Acho que este é um ponto fundamental do projeto: a biodiversidade. Cerca de cem espécies foram plantadas nos prédios", Stefano Boeri. Juntas elas cobrem uma área de dois hectares, equivalente a dois campos de futebol

Frescor

Esta cortina verde proporciona uma diminuição de 2 a 3 graus centígrados durante o verão. E isto significa a economia de energia. Durante o inverno, quando as folhas caem, o bosque vertical vai receber maior quantidade de luz. Com o apoio de duas agrônomas, Laura Gatti e Emmanuela Borio, as plantas foram escolhidas a dedo para evitar alergias e resistir às novas condições meteorológicas.
Ideia é que o projeto verde seja aplicado em outras iniciativas arquitetônicas
Além disso, a cobertura vegetal, vertical, acompanha as cores das estações. Durante o outono, a fachada das torres vai ganhar os tons de amarelo e vermelho e laranja. Na primavera, as flores irão colorir o condomínio. O edifício se torna um organismo vivo, literalmente. Os próximos dois anos irão ser fundamentais para a adaptação do bosque vertical.
Além do morador, humano, espera-se a chegada de novos vizinhos como as joaninhas e outros inofensivos insetos e aves, algumas migratórias, como as andorinhas. " Sei que um casal de falcão já fez um ninho numa árvore que foi plantada dois andares abaixo da copa. Fazia muito tempo que não se via um falcão por aqui", afirma Boeri.

Mas ainda é cedo para avaliar a emoção provocada no homem. Foram vendidos 60% dos 113 apartamentos, a um valor médio equivalente a R$ 24 mil o metro quadrado) e ainda há poucas famílias vivendo no local, onda a taxa mensal de condomínio custa o equivalente a R$ 10 mil.

Modelo

No entanto, o modelo do Bosco Verticale pode ser adaptado às construções antigas e mais baratas. "Este projeto pode ser usado na reforma de outros prédios, a pesquisa e as soluções já foram feitas, e estamos trabalhando em complexos residencias sociais", diz Boeri.

Ele espera que este tecnologia possa servir de impulso para que as novas construções sejam menos envidraçadas e mais esverdeadas.

O arquiteto defende a verticalização das cidades em contextos urbanos já desenvolvidos. "A ocupação de novas terras implica em maiores gastos com a infraestrutura de serviços. Temos que crescer em altura mas com equilíbrio. Prédios entre 80 e 200 metros, no máximo, com muito verde. O fluxo de pessoas nas cidades é potente, penso no Rio de Janeiro, em São Paulo. O Bosco Verticale é uma contribuição a um novo "relacionamento" entre a natureza e a arquitetura e o homem", diz Boeri.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014


Willie Nelson & Emmylou Harris - Till I can gain control again



Prisão de executivos na Lava Jato não é suficiente, afirmam especialistas

Como parte do escândalo da Petrobras, detenções "espetaculares" são inéditas. Mas corrupção é sistêmica e requer mudanças profundas na burocracia estatal e no financiamento privado de campanhas eleitorais.

O ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, foi um dos presos na Operação Lava Jato

Da Deutsche Welle

A sétima fase da Operação Lava Jato, que levou mais de vinte executivos de grandes empreiteiras à prisão na última sexta-feira (14/11), foi uma ação inédita no país. Acadêmicos e juristas ouvidos pela DW Brasil alertam, no entanto, que a operação, por si só, não será suficiente para "passar o país a limpo", como têm repetido policiais e procuradores envolvidos na investigação.

"Essas prisões espetaculares apenas atenuam o problema. Significam trazer uma esperança um pouco vã para a população. Nada vai mudar enquanto o Estado não funcionar de forma republicana e democrática", defende Roberto Romano, professor de Filosofia Política da Unicamp.

A burocracia estatal e o financiamento privado de campanhas eleitorais são apontados pelos especialistas como os principais fomentadores da corrupção no país. Caso essa estrutura não seja modificada, dizem, a prática de atos ilícitos irá persistir na administração pública.

"Empresários e agentes públicos criaram uma espécie de ética paralela, que vem de muitos anos. Isso é conhecidíssimo. A novidade é o indiciamento dos grandes atores desse setor", pontua Romano.

Na Austrália, presidente afirma que investigações devem transformar relações entre sociedade, Estado e empresas privadas, e que estatal não deve ser condenada internacionalmente por uma "minoria" de corruptos. (16.11.2014)

A etapa da operação, intitulada "Juízo Final", cumpriu 85 mandados de prisão ou de busca e apreensão, atingindo altos executivos das maiores empreiteiras do país, como Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, UTC, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e Iesa.

As construtoras têm contratos que somam 59 bilhões de reais com a Petrobras. A Polícia Federal investiga desvios de recursos da estatal para o pagamento de propina a políticos e executivos.

Corrupção histórica
Romano conta que a relação de escambo entre políticos e executivos de empresas privadas é antiga.

O conluio vem desde o período Getúlio Vargas, quando começaram as primeiras obras de grande importância para a indústria, e se intensificou no governo JK, com a construção de Brasília, e no regime militar, com obras viárias de abrangência nacional.

O costume dos empresários brasileiros de depender de contratos com o governo sinaliza, segundo o professor, que os executivos seriam "pouco capitalistas". "O empresariado nacional gosta de mamar nas tetas do governo, como diria Delfim Netto", afirma.

A culpa, entretanto, não é apenas do setor privado, defende Romano. A burocracia estatal dificulta a atividade empresarial no Brasil, levando executivos a optarem por "caminhos tortuosos". "Para que as coisas mudem, é necessário que o governo preste contas, passe a cumprir suas obrigações e respeitar os direitos. A burocracia impõe a corrupção", argumenta.

Para Marlon Reis, juiz eleitoral do Maranhão e um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, o sistema eleitoral brasileiro também incentiva a corrupção ao permitir o financiamento privado de campanhas políticas envolvendo grandes empresas que têm acordos com o governo.

"Nosso modelo de doações nem precisa de caixa dois, porque o caixa um já é uma grande lesão", critica. "Ele oficializa uma relação completamente espúria entre algumas empresas e a política: a retroalimentação de grupos reduzidos, com interesses econômicos comuns."

Nesse sentido, Reis afirma que a Operação Lava Jato explicitou os impactos nocivos das doações empresariais e tornou ainda mais clara a necessidade de uma reforma no sistema político.

Contratos de construtoras investigadas com Petrobras somam R$ 59 bilhões

"Nosso sistema está montado sobre um modelo que não funciona sem o tráfico de influência entre o setor privado e o governo", comenta. "Não basta proibir as doações empresariais, é preciso estabelecer como será o novo modelo de financiamento e transparência para evitar que haja caixa dois."

O Supremo Tribunal Federal (STF) já tem maioria de votos contra a doação empresarial de campanha, por considerá-la inconstitucional, mas o julgamento ainda não foi concluído.

Crime de corrupção
O Brasil pune atos ilícitos no ambiente empresarial, como a má administração e a obtenção de vantagens pessoais, desde 1976. O crime de corrupção, no entanto, foi tipificado apenas no ano passado.

A Lei de Responsabilidade Empresarial, aprovada em 2013 pelo Congresso, ainda não foi regulamentada pelo Executivo. O texto dispõe sobre os atos de corrupção em empresas e estabelece penas administrativas, civis e criminais severas, com multas e até a inviabilização da contratação pelo poder público de corporações descobertas em esquemas fraudulentos.

"O fato de não ter sido regulamentada não significa que a lei não possa ser aplicada. Temos uma boa legislação sobre o assunto, e o Judiciário pode utilizá-la. O Brasil assumiu compromissos internacionais, como a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que não tem sido devidamente observada", diz Reis.

Segundo Maurício Scheinman, professor de direito comercial da PUC-SP, a punição contra empresários tem sido mais efetiva. "A legislação de 2013 tornou os crimes de corrupção ativa e passiva no ambiente empresarial muito mais claros, o que contribuiu para a prisão de pessoas de quilate mais elevado."

A presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que estatal estuda medidas para o "ressarcimento de recursos desviados"

Reação da estatal
Em meio aos escândalos de corrupção, a presidente da Petrobras, Graça Foster, anunciou nesta segunda-feira (17/11) a criação de uma diretoria de governança, uma das 66 medidas que serão implementadas para melhorar a gestão da companhia.

Segundo Foster, a Petrobras estuda medidas jurídicas para ressarcir "recursos desviados, eventuais sobrepreços e danos à imagem da companhia". Devido às denúncias, a estatal não pôde divulgar o balanço contábil previsto para a última sexta-feira.

A empresa contratou dois escritórios de advocacia, que farão uma investigação paralela à Operação Lava Jato. Os serviços custarão à Petrobras cerca de 11 milhões de reais. Dois ex-diretores, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, são investigados por crime financeiro.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Confúcio


Tulsa Queen, Emmylou Harris


“Não há uma cidade, um Estado no Brasil, sem obra superfaturada”


O promotor de Justiça Marcelo Mendroni, de São Paulo. / M. NOVAES
Por MARINA NOVAES, no El País

Mudam os esquemas, mas os protagonistas continuam os mesmos. Ano após ano, grandes empresas – em especial, construtoras – são apontadas como pivôs de escândalos suspeitos de desviar uma fortuna dos cofres públicos no Brasil. O mais atual, que atinge a empresa estatal mais importante do país, a Petrobras, revelado pelaOperação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), pode ter causado um rombo de até 10 bilhões de reais. Para o promotor de Justiça de São Paulo Marcelo Batlouni Mendroni, especialista em investigar crimes financeiros e cartéis, somente uma ampla reforma na legislação diminuirá a ocorrência de casos de corrupção que, na avaliação dele, é endêmica.

“Não há uma prefeitura, um Estado no Brasil, sem contratos superfaturados de obras, de prestação de serviços”, disse o promotor, doutor pela Universidad Complutense de Madrid, na Espanha, com pós doutorado na Università di Bologna, na Itália. Em entrevista ao EL PAÍS, na sede do Gedec, órgão do Ministério Público paulista criado em 2008 para investigar delitos de ordem econômica, Mendroni comparou as empresas envolvidas em escândalos dessa natureza à máfia italiana.
O promotor é autor da denúncia, de 2012, um grupo de empreiteiras suspeitas de fraudar uma concorrência pública para obras do metrô paulista. Embora sejam casos completamente distintos – um afeta o Governo Federal, comandado pelo PT, e o outro o Governo paulista, a cargo do PSDB –, chama a atenção a repetição dos “personagens” da esfera privada. Dentre as denunciadas pela Promotoria de São Paulo há dois anos, seis estão agora sob a mira da Operação Lava Jato da PF: as construtoras Camargo Corrêa, Mendes Júnior, OAS, Queiroz Galvão, Iesa e Odebrecht – todas negam irregularidades. Na semana passada, 36 investigados,entre eles executivos de oito construtoras, foram detidos pela Polícia Federal.
Pergunta. Por que observamos a repetição de algumas empresas em casos diferentes de corrupção?
Resposta. Por causado volume de dinheiro envolvido nos contratos com grandes estatais. O Brasil parece que, indiretamente, vai copiando o modelo das atividades mafiosas. Se você for olhar a Cosa Nostra italiana, de um tempo pra cá, ela parou de praticar crimes violentos e entendeu que conseguia ter muito mais sucesso conseguindo ganhar grandes contratos com o poder público, através da infiltração nas obras públicas, da corrupção de agentes públicos e intimidação de concorrentes. Então eles ganham grandes contratos com o Estado, superfaturam essas obras, que foi exatamente o que parece que aconteceu na Operação Lava Jato e que acontece no Brasil... Aliás, verdade seja dita: é o que acontece em praticamente todos os municípios, todos os Estados e na União. É uma corrupção absolutamente disseminada em todo o país. Eu acho que não existe uma prefeitura nesse país, um Estado, que não tenha esquema de superfaturamento de contratos de obras e serviços públicos. E a União, evidentemente, é onde estão os maiores contratos.
Na corrupção a gente também não sabe quem vem antes, a empresa ou o político
Essas organizações empresariais também são organizações criminosas. Isso tem que ficar bem claro. Hoje em dia, sabemos de empresas perfeitamente lícitas que atuam como um modelo de organização criminosa empresarial, que praticam muitos crimes, além de corrupção, a formação de cartel, os crimes tributários, e outros por aí... ou seja, elas praticam atividades lícitas, mas se valem da estrutura empresarial pra praticar crimes.
P. O senhor foi enfático em mencionar que não tem conhecimento profundo sobre a Operação Lava Jato. Mas, pela sua experiência, é possível que o esquema que vimos na Petrobras hoje tenha começado há muitos anos, até em Governos passados?
R. Sem conhecer o caso, sem opinar especificamente sobre esse caso, acho que esse é um esquema que já vem de muitos, muitos anos. (...) A minha opinião é de que sim. Que isso não é um esquema novo. Não só a Petrobras, mas se fossem investigar a fundo as grandes estatais, todos esses contratos, a gente ia ver aí que muitos outros bilhões de reais foram levados através de superfaturamento de obras, de hidrelétricas, estradas, hidrovias, enfim... Não tenho a menor dúvida. Na verdade, eu diria que, com 99,99% de chance, sim que esse esquema existe há pelo menos aí uns 30 anos, desde que o Brasil saiu da ditadura militar... Meu palpite é que desde os anos 80 a gente tenha aí esses esquemas atravessando os Governos indistintamente. Talvez tenha sido mais forte em um Governo que em outro, dependendo muito da ação de Tribunais de Contas, do Ministério Público, da Polícia Federal, enfim, dos termos de investigação e repressão à criminalidade. Mas que existe há bastante tempo eu acho que sim.
Meu palpite é que desde os anos 80 a gente tenha aí esses esquemas atravessando os Governos indistintamente
P. Muitos classificaram como “histórica” as prisões de empresários na última semana – e recentemente de políticos envolvidos no escândalo do Mensalão. Qual a sua opinião?
R. Eu acho que o Brasil vive uma fase em que deveria rever toda a legislação, a questão da Justiça, pra de alguma forma passar o país a limpo... É lógico que a corrupção não vai ser extirpada, mas que fosse dado um golpe violento contra a corrupção, para que as pessoas tenham mais medo. Porque do jeito que ela existe hoje, eu não tenho nenhum medo de errar em dizer que a corrupção é absolutamente endêmica no Brasil. E não acho que só isso vai ser um divisor de águas. Se não se houver essa reforma processual penal e penal, eu acho que nós vamos viver esse filme mais algumas vezes, achando que dessa vez vai... E isso pode ter um efeito rebote muito perigoso, no sentido de que as pessoas fiquem incrédulas, desestimuladas...
P. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, disse à Folha de S.Paulo que algumas das empresas investigadas disseram ter sido alvo de concussão, ou seja, da exigência de dinheiro para fechar contratos. O que o senhor acha desse discurso?
R. É balela. (...) Assim como a gente não sabe quem veio antes, o ovo ou a galinha, na corrupção a gente também não sabe quem vem antes, a empresa ou o agente político. Porque é interessante para os dois. Na verdade, as duas partes se procuram...
P. Qual a dificuldade que o Brasil tem de perseguir e punir os agentes corruptores?
R. A corrupção é talvez um dos casos mais difíceis de se apurar. Porque é um crime silencioso que interessa às duas partes. Na corrupção, existem dois autores ao mesmo tempo e a vítima é o Estado, que é quieto, silencioso, não fala... A investigação da corrupção é dividida basicamente de duas formas cruciais: a primeira é quando as partes não sabem que estão sendo investigadas, que é quando temos um maior grau de possibilidade de eficiência, na medida em que nós temos instrumentos como escutas telefônicas, escutas ambientais, buscas e apreensões... Depois que os casos chegam à imprensa, corremos contra o tempo.
P. O senhor disse que, depois que a investigação vaza, fica mais difícil reunir um conjunto de provas ‘diretas’. Isso não facilita, de certa forma, o trabalho da defesa? Porque grandes empresas têm grandes advogados...
Hoje é muito vantajoso o cara praticar o crime, conseguir roubar milhões, e depois sair, resgatar o dinheiro que eles têm aplicado em outra parte do planeta, e viver uma vida nababesca
R. Se você tem poucas provas diretas, mas tem um conjunto vasto de provas indiretas, é possível que se dê maior valoração para as provas indiretas. Mas o poder Judiciário no Brasil, de uma forma geral, ainda é um pouco resistente em analisar as provas indiretas, coisas que na Europa e nos Estados Unidos, já foi absolutamente superado. Na Itália, por exemplo, os juízes aplicam nos casos de grandes máfias a questão da ‘máxima de experiência’, que é uma coisa muito nova no Brasil. (...) Mesmo a colaboração premiada, que é usada há muito tempo na Europa e nos Estados Unidos, só agora começa a ser usada no Brasil, principalmente depois da Lei de Organização Criminosa, mas ela já estava na nossa legislação. No Direito as coisas são um pouco mais lentas que nas outras ciências, porque envolvem uma adaptação da sociedade. Nós passamos por um período, e ainda passamos de certa forma, de muita resistência de advogados dizendo a colaboração premiada é imoral, mas isso é um instrumento absolutamente lícito. Então é um processo lento.
P. O que pode ser feito para diminuir a ocorrência de crimes financeiros no Brasil?
R. Em uma investigação de uma organização criminosa você precisa de uma engrenagem de três rodas: legislação adequada, estrutura e treinamento. Pra começar, já passou do tempo de os Estados terem varas criminais especializadas em crimes econômicos. Os casos de lavagem de dinheiro e de formação de cartéis, especificamente, e aqueles correlatos, são extremamente complexos. Quando você manda um caso desses pra um juiz comum, que na maioria das vezes não está habituado com esse tipo de processo, ele vai ter que começar tudo do zero.
O outro ponto é que a punição seja efetiva pra esse tipo de crime. Eu costumo dizer o seguinte: esses empresários, esses políticos e agentes públicos que praticam a corrupção não precisam de ressocialização, como os criminosos comuns. Eles precisam de uma pena com caráter exclusivamente punitivo. Não é permitindo que ele deixe a prisão depois de cumprir um sexto da pena... Por que hoje é muito vantajoso o cara praticar o crime, conseguir roubar milhões, e depois sair, resgatar o dinheiro que eles têm aplicado em outra parte do planeta, e viver uma vida nababesca. Se você tem um nível baixo de criminalidade em alguns países da Europa é porque as pessoas têm medo da mão pesada da Justiça, não porque elas nascem naturalmente boas...
P. Qual a sua opinião sobre o financiamento privado das campanhas eleitorais?
R. Eu sou um pouco radical nessa questão. Eu, por exemplo, me questiono por que tem que ter o financiamento público ou privado de campanha... Por que as grandes empresas querem financiar as campanhas? Porque elas têm interesses. Não é de graça. Não é ideológico. Elas bancam candidaturas indistintamente, de vários partidos, sem nenhuma ideologia política, dos concorrentes diretos. Isso é o óbvio ululante. Só não enxerga quem não quer ver. É um ciclo vicioso: eles financiam as campanhas e depois cobram de alguma forma, seja para facilitar os contratos com essas empresas, que são superfaturados e é, muitas vezes, a forma como recebem o dinheiro investido de volta.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cora


Neil Young - This Old Guitar (Live at Farm Aid 2005) with Willie Nelson & Emmylou Harris



Premissas e promessas

Por Luiz Carlos Cabrera, na VOCÊ S/A

Direção de carreira
Plano de carreira indica a direção certa para a sua trajetória profissional, de acordo com especialistas

São Paulo - Ao longo da carreira e da vida, estabelecemos diversos compromissos e pactos que nos fazem ir adiante. Podemos citar como exemplos o namoro, o casamento, a compra do carro ou do imóvel, a negociação de emprego e a defesa de um plano de investimento.

Cada um desses momentos importantes envolve uma negociação com uma ou mais pessoas e entidades em busca, teoricamente, de um equilíbrio: é preciso ser bom para todos. Olhando mais a fundo, cada lado deve equilibrar dois conjuntos: as premissas e as promessas.

As premissas são dados, fatos, condições de contorno, exigências legais etc. Em geral, admitem certa negociação. As promessas são intangíveis. São contratos psicológicos que se estruturam ao longo da negociação. Por exemplo, durante um processo de seleção, o cargo e sua posição na organização, os objetivos e o próprio salário são premissas da empresa.

A formação educacional, a experiência e as competências adquiridas são algumas das premissas do candidato à vaga. Esses dois conjuntos de premissas precisam ser compatibilizados. E isso se faz durante o processo de seleção.

Na conclusão do processo e na formulação e na aceitação do convite, entram em ação as promessas.

Por um lado, a empresa promete ambiente favorável ao desenvolvimento, perspectiva de crescimento, clima organizacional equilibrado e carga de trabalho suportável. Por outro lado, o profissional promete dedicação, esforço, pontualidade e disponibilidade para aprender.

Basta relermos os quatro conjuntos para perceber que o conjunto das premissas é a tal condição sine qua non que aprendemos na matemática. É a base inicial. O grande desafio é sempre o cumprimento das promessas pelos dois lados. Às vezes, as promessas são expressões de desejo, mas estão longe da realidade.

Às vezes, são discursos treinados e não representam a verdade. Em geral, nas “negociações” olhamos com muito cuidado as premissas porque é mais fácil, mais tangível. Mas interações humanas fracassam por quebra de promessas. Uma promessa descumprida deixa uma marca eterna.

Cuide sempre de avaliar bem, em qualquer “negociação”, as premissas. Mas ponha todo seu esforço e transparência para fazer e avaliar as promessas. É nesse conjunto que ocorrem os problemas e as decepções. Dos dois lados.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Peter Drucker


Sheryl Crow & Emmylou Harris



Cinco lições essenciais sobre produtividade

Por Ana Carolina Prado, na Superinteressante

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Quando se formou na faculdade em maio do ano passado, o canadense Chris Bailey recebeu duas ótimas ofertas de trabalho em período integral, mas as dispensou. Ele tinha um plano e aceitar qualquer uma dessas propostas o impediria de colocá-lo em prática. Um ano depois, ele afirma que não se arrependeu. Durante 12 meses, Bailey leu e testou tudo o que pôde encontrar sobre o tema produtividade, compartilhando suas descobertas no site que leva o nome do projeto: A Year of Produtivity (ou “Um ano de produtividade”). O objetivo era conseguir se tornar o mais produtivo possível – e ajudar as pessoas a se beneficiarem de suas descobertas. O experimento rendeu 197 artigos nesse período, mas ele publicou um resumão com as lições mais importantes que aprendeu. Veja cinco delas:

1. Saiba escolher bem suas tarefas em cada área da vida
Eu já falei neste post sobre trabalhos reativos e criativos, e eis mais uma pessoa defendendo algo parecido. Podemos ter incontáveis coisas para fazer em diferentes campos da vida (trabalho, educação, saúde, mente, finanças, relacionamento etc.), mas é preciso saber classificar essas tarefas de acordo com o seu valor para melhorar cada uma dessas áreas. Boa parte delas só vai consumir seu tempo e energia e não trará resultados notáveis. Por outro lado, existem algumas que, sozinhas, podem lhe dar um retorno dez vezes maior. Descubra quais são e foque nelas.

2. As dicas mais eficientes são as mais clichês
Quão clichê é dizer que as mais importantes táticas para ser produtivo são comer bem, dormir o suficiente e se exercitar? Pois saiba que, por mais bobas que pareçam, elas se revelaram as mais eficientes para Chris Bailey. “Eu acho que por trás dos clichês existe uma verdade tão poderosa que as pessoas se sentem compelidas a repeti-las tantas vezes que elas acabam perdendo seu valor”, escreve ele. “Mas, como alguém que testou centenas de técnicas para administrar melhor meu tempo, energia e atenção na última década [porque ele já vem pesquisando o tema bem antes de começar o projeto] posso afirmar: nada contribuiu mais para a minha produtividade do que comer bem, dormir o bastante e fazer exercícios físicos”, completa.
Um adendo aqui: Isso faz sentido. Quando eu fui investigar qual o segredo para conseguir acordar cedo (algo que sempre me pareceu impossível sem muito sofrimento e dor, e no qual eu falhava TODOS OS DIAS – e acordar já falhando miseravelmente não é um jeito muito legal de começar o dia), fiquei meio decepcionada com a simplicidade do que encontrei. Eu esperava táticas mais interessantes e temi ser xingada por leitores que também tivessem essa expectativa. O texto está aqui e eu recomendo a leitura, mas, basicamente, o segredo mais importante é dormir cedo (sério, leia antes de me odiar porque tem toda uma explicação). O ponto é que isso também acontece com a “fórmula” para a produtividade e, provavelmente, para um monte de outras coisas.


3. Os três ingredientes principais para a produtividade são tempo, energia e atenção
Bailey descobriu que, não importava quais técnicas usasse, elas sempre envolviam administrar melhor um ou mais desses três fatores: seu tempo, energia e atenção. Para ele, esses são os três ingredientes fundamentais para uma produtividade consistente. Se você tem muita energia e foco, mas não sabe administrar seu tempo, acabará dedicando muitas horas às tarefas erradas e não vai conseguir muita coisa. Se é bom em administrar o tempo e tem muita energia, mas não tem foco, vai se distrair e procrastinar. E se tem foco e sabe administrar o tempo, mas não sabe administrar a energia, pode desperdiçá-la com coisas menos importantes. Portanto, é fundamental ter as três competências.

4. Trabalhar duro demais e por tempo demais faz mal à sua produtividade
Virar noites trabalhando e não parar nem para almoçar com calma podem dar a impressão de que você está fazendo muita coisa, mas definitivamente não te fazem uma pessoa mais produtiva em longo prazo. “Em um experimento que durou um mês, eu alternava entre trabalhar 90 horas em uma semana e 20 horas na semana seguinte. Então descobri que a quantidade do que produzi foi igual nas duas, por uma razão simples: quando eu limitava o tempo que gastaria em uma tarefa, eu me forçava a dedicar mais energia em menos tempo para que pudesse conclui-la rapidamente. Quando tinha mais tempo para o trabalho, eu tendia a procrastinar mais e trabalhar em atividades que me dariam menos retorno (como as que mencionamos no primeiro item), e assim perdia mais tempo”, escreve Bailey.

5. Tenha em mente que ser produtivo tem a ver com quanto você conquista, não quanto você produz – e seja gentil consigo mesmo
Quando você está focado em ser mais produtivo, é comum cometer o erro de focar em números: quantas páginas ou palavras escreveu e leu, quantas horas trabalhou, quantos e-mails respondeu. O problema é que, segundo Bailey, “a menos que você trabalhe em uma fábrica, medir sua produtividade baseado apenas em quanto você produziu vai te dar um panorama limitado de quão produtivo você é”. Por exemplo, escrever um texto de 100 palavras que condense eficientemente o que seria posto em 500 não significa que você produziu menos – significa que produziu melhor. Responder 200 e-mails poderia dar a impressão de que sua manhã foi um sucesso, mas será que essas mensagens eram mais importantes do que alguma outra única tarefa que você poderia ter feito no lugar? Aqui entra de novo a discussão do valor das tarefas, e do quanto elas contribuem para que você se sinta satisfeito não só no final do dia, mas da semana, do mês e do anoAlém disso, é preciso ter em mente por que você quer alcançar determinadas metas e não perder isso de vista, senão sua satisfação com o trabalho vai embora e sua produtividade vai perder o sentido. Por fim, Bailey acrescenta que, para manter a motivação, ainda é necessário outro ponto: ser gentil consigo mesmo. Ser mais produtivo requer um tremendo esforço, e daí para começar a se pressionar exageradamente é um pulo. Você está tentando fazer mudanças positivas na sua vida, então é importante manter uma atitude positiva em relação a si próprio.  

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

OUR SHANGRI-LA - Mark Knopfler and Emmylou Harris



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Clarice Lispector


The Beatles "Memphis, Tennessee"



10 dicas do 'guru da publicidade' para escrever melhor


Don Draper, personagem de Mad Men: 10 dicas de David Ogilvy para escrever melhor

Guilherme Dearo, de EXAME.com

São Paulo - Um dos nomes mais famosos do mundo da publicidade é do inglês David Ogilvy.

Fundador da agência Ogilvy & Mather, ele é considerado o pai da publicidade e já foi reverenciado até na capa da Revista Time, em 1962, que o chamou de "mago da publicidade mais requisitado".

Recentemente, a agência publicou um memorando original enviado por Ogilvy aos seus funcionários em 1982.

No texto, ele dá 10 dicas para ser um escritor melhor. As dicas, claro, focam os redatores publicitários, mas não deixam de ser muito úteis para qualquer um que deseja escrever melhor no ambiente de trabalho ou até fora dele.

Veja a seguir as 10 dicas traduzidas e depois a imagem original da nota, de 7 de setembro de 1982:

"Como escrever"

Quanto melhor você escrever, mais longe irá na Ogilvy & Mather. Pessoas que pensam bem, escrevem bem. 

Escrever bem não é um dom natural. Você precisa aprender a escrever. Aqui vão 10 dicas:

1. Leia o livro "Writing That Works", de Kenneth Roman e Joel Raphaelson. Leia três vezes.

2. Escreva do jeito que você fala. Naturalmente.

3. Use palavras curtas, sentenças curtas, parágrafos curtos.

4. Nunca use jargões como "reconceituar" ou "desmassificação". Eles são marcas de que você não passa de um pretencioso.

5. Nunca escreva mais de duas páginas sobre um mesmo assunto.

6. Cheque a grafia.

7. Nunca mande uma carta ou um memorando no mesmo dia que você o escreveu. Leia em voz alta no dia seguinte e então edite.

8. Se é alguma coisa importante, chame um colega para melhorar.

9. Tenha certeza de que a mensagem está clara para o seu leitor.

10. Se você quer ação, não escreva. Vá até a pessoa e diga o que quer.

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