segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Sobre compromisso e responsabilidade...



Estados Unidos e Inglaterra são duas potências que construíram a pujança de suas economias e do progresso social investindo - de maneira determinada e continuada - em educação.

E o exemplo foi seguido por países como Alemanha, Coréia do Sul, Austrália e Dinamarca, dentre outros.  

De há muito essas nações vêm, de forma ininterrupta, promovendo saltos de qualidade, intensivas intervenções no modelo educacional de sorte a torná-lo âncora do processo de desenvolvimento e sustentabilidade.

Um dos pontos mais destacados nos modelos vigentes nesses países é a adoção de uma política de compromissos. Ensina o planejamento que a conquista de metas e objetivos deriva da qualidade dos compromissos assumidos. Se algo não vai bem ou encontra-se fora de controle, é bastante provável que a carta de compromissos encontra-se eivada de vícios, equívocos ou simplesmente má fé.

Ao contrário do que ocorre na parte do planeta que evoluiu, no Brasil, tanto o planejamento como a educação tem sido historicamente tratados a pão e água. Na América Latina de forma geral, e na bolivariana, de forma particular, onipresentes nos discursos, na verve e no proselitismo partidário, planejamento e educação foram lançados à categoria do

(...)
bonito de falar
pois não se trata de aplicar
Quem é que não sabe
O que se deseja é enganar¹
(...)
¹Educação, do poeta popular Quirino de Sousa

Ao se estabelecer compromissos e pactuar responsabilidades o que se busca é a construção coletiva, o fazer solidário. Nada que lembre o “fiz minha parte, o resto é que se dane!”; o “cada um por si de Deus por todos”; ou o “não tenho nada a ver com isso!”. Construção coletiva implica, sobretudo, em uma abordagem mais profunda e vertical da realidade e do contexto: ser reconhecido e premiado quando as metas são cumpridas e, na vertente oposta, ser chamado à responsabilidade quando objetivos e metas ficam aquém do necessário.

Quando se avalia a educação nos países desenvolvidos, percebe-se, claramente, que o pacto de compromissos encontra-se no centro estratégico dos modelos: professores, coordenadores, direção e servidores da unidade educacional são chamados a planejar suas atividades especificando objetivamente o quê, quando, onde e de que modo fazer. Implica dizer que a equipe pedagógica é submetida a periódicas avaliações, respondendo, sempre, pelos resultados. Quando positivos, a contrapartida do Estado se materializa em bonificações por merecimento e incremento do orçamento para a escola. Mas quando negativos, a resposta se materializa em um corolário de punições e restrições como, por exemplo, a redução orçamentária podendo, no limite, implicar no fechamento da unidade educacional.

Outro aspecto relevante dos modelos educacionais exitosos é a implantação do currículo unificado. Isso no Brasil sempre funcionou de mentirinha, sempre existiu mas de forma muito precária e artificial. Como, na terra brasilis, os problemas de gestão são crônicos, raramente os professores se orientam e cumprem os planos de aula e de curso. Com frequência o que geralmente ocorre é que os próprios professores acabam definindo, unilateralmente, que capítulo do livro ministrar, qual adaptar, qual fatiar, que seções simplesmente desconsiderar,... Na contramão de tudo o que tem se mostrado verdadeiramente eficaz: conteúdos pedagógicos repassados integralmente, se necessário com a reposição e readequação da carga horária.

Um terceiro ponto compõe o tripé do arranjo organizacional implementado nos países desenvolvidos: a aplicação de avaliações regulares ao término de cada etapa ou ciclo.

Como que purgando de um mal degenerativo, o componente avaliação, no Brasil, tem figurado quase que exclusivamente nos discursos de políticos e acadêmicos, como se parlenda fosse. A cultura da avaliação está longe de se cristalizar entre nós.

·        pacto de compromissos
·        currículo unificado
·        avaliações

No desafio de resgatar, no Brasil, uma educação de qualidade, colocando-a como ponta de lança do processo de sustentabilidade, os fatos evidenciam que necessitamos tensionar a nação, mobilizar a sociedade, porque a história tem mostrado que políticos e governo, se adoram reverenciá-la nos discursos e palanques, na prática do dia a dia reservam a ela não mais que chicotes e açoites.

Artigo de Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.