sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O Google e a escova de dentes.

Sabe o que o Google 'usa' para comprar outras empresas? Uma escova de dentes

Da redação do Canaltech   


Escova de dentes

Nos últimos meses, você certamente deve ter acompanhado uma lista considerável de aquisições feitas por empresas de tecnologia. Obviamente, entre elas está o Google, que tem ampliado sua participação em diversos mercados, principalmente os de software e robótica. Mas deixando de lado toda a parte burocrática, o que essas companhias levam em consideração na hora de pagar bilhões de dólares por uma startup, programa ou serviço?

No caso da gigante das buscas, quem autoriza as negociações é ninguém menos que Larry Page, presidente do Google. Toda vez que a entidade está interessada em adquirir uma outra empresa, Page realiza um "teste da escova de dentes", que consiste em responder uma pergunta simples e bastante curiosa: "Isso [no caso a empresa] é algo que eu vou usar uma ou duas vezes ao dia e que vai deixar a minha vida melhor?".

A revelação foi feita por Donal Harrison, vice-presidente de desenvolvimento corporativo do Google, ao jornal The New York Times. De acordo com Harrison, Page tem o costume de olhar para potenciais negócios em um estágio muito inicial, mas que a companhia prefere utilizar o método da escova de dentes em vez de consultar bancos de investimentos para concluir os processos de compra. "Os banqueiros podem ser úteis, mas eles não estão necessariamente no centro das discussões", comentou.

Na prática, isso significa que, para chamar atenção de Page, uma empresa não precisa apresentar lucros apenas no presente, mas sim apresentar algo verdadeiramente útil a longo prazo, assim como é uma escova de dentes. "Os banqueiros são peritos em duas coisas: avaliação financeira e negociação. Mas há uma sensação de que os banqueiros de investimento podem não ser tão importantes durante a avaliação de uma nova empresa [feita por uma gigante do setor]", afirmou o advogado Richard E. Climan.

A dinâmica da escova de dentes foi aplicada na compra da Nest Labs Inc. pelo Google, em janeiro deste ano, por US$ 3,2 bilhões. O NYT destaca que as vendas atuais da startup representam apenas "uma gota no oceano de lucros do Google", mas que o negócio permitiu que a companhia entrasse em um mercado novo e com enorme potencial: o da internet das coisas, conceito de hiperconectividade dos nossos dispositivos em todos os lugares (casa, trabalho, estabelecimentos) e que tem sido uma das apostas de outras empresas de tecnologia.

Claro que tomar como base uma escova de dentes nem sempre é sinônimo de sucesso. A mesma lógica fez parte de outra negociação do Google, em 2010, quando a entidade adquiriu a startup de aplicativos sociais Slide por US$ 228 milhões. Um ano depois, ela foi fechada. Segundo analistas, o erro foi o Google ter comprado a empresa sem o aconselhamento de bancos. A corporação enfatiza que mantém boas relações com essas instituições, mas que muitas vezes o que importa é a cultura e visão daquela companhia e não os lucros e receitas gerados por ela.

É só olhar tudo aquilo que o Google adquiriu nos últimos meses: foram mais de doze empresas ligadas a hardware e software, como a Holomni, especialista em design e produção de rodas inteligentes; a Makani Power, fabricante de turbinas eólicas; a Boston Dynamics, que produz máquinas humanoides para o Pentágono e outras entidades governamentais; a DeepMind Technolgies, startup britânica de inteligência artificial; a empresa de satélites SkyBox Imaging; a drawElements, que otimiza gráficos mais complexos para vários componentes de dispositivos móveis; e tantas outras companhias.

Outro exemplo de que muitas empresas desconsideram o lucro inicial na hora de adquirir uma nova entidade é a compra da Oculus VR pelo Facebook, em março deste ano, por US$ 2 bilhões. Primeiro que são dois produtos diferentes: um serviço (software) e um headset físico, o Rift. Segundo que o anúncio não foi feito por nenhum banco ou assessoria de imprensa, mas pelo próprio CEO da rede social, Mark Zuckerberg, que na época compartilhou sua visão de como a realidade virtual é a próxima revolução no mundo da informática.