quarta-feira, 27 de agosto de 2014

As equipes de trabalho


QUALIDADE
No livro Quality is Free, Phillip Crosby afirma que a "qualidade das organizações depende da qualidade das pessoas".

Não são poucos os que valorizam as modernizações que enfatizam tão somente aquisições de máquinas e equipamentos, retrofit e novos cenários físicos, informatização, terceirização, relegando a um enésimo plano a adoção de eficazes políticas de recursos humanos.

Motivadas e capacitados, as pessoas são capazes - mesmo ante condições extremamente adversas - de viabilizar meios e condições para solucionar problemas, melhor aferir a qualidade dos produtos, aumentar a produtividade, reduzir os desperdícios, produzir melhor com menor tempo e custos.

No trabalho, em busca da qualidade, é importante que trabalhemos com grupos, mas perseguindo seu estágio mais aprimorado e evoluído, as Equipes de Trabalho.


CONSTITUIÇÃO
Há uma infinidade de critérios a subsidiar o processo de definição dos integrantes das Equipes de Trabalho:

·        formação acadêmica
·        experiência anterior
·        interesse pessoal
·        disponibilidade
·        responsabilidade, etc.

Mas, de todos que se possa estabelecer, um merece especial destaque: a motivação.

As Equipes são constituídas por pessoas. Na análise psicológica encontramos os céticos, os amargos, os desiludidos, os permanentemente de mal com a vida, os individualistas, os egocentristas, os incapazes de assumir erros, os incompativeis com a realização da autocrítica, os arrogantes e presunçosos, os carreiristas, ...

Mas para trabalhar em Equipe é necessário desprendimento, motivação, vontade para realizar e fazer acontecer, ser um abnegado da partilha e da solidariedade. Para superar obstáculos complexos, é necessário cantar com determinação os versos de Martí "... a melhor forma de dizer é fazer", e os de Rodoux Faugh "... fazer com energia de mil sóis e com o amor de mil amantes".

Já participei de trabalhos em que se privilegiou a idade na composição da Equipe. Os jovens têm menor resistência às inovações, mais ousadia e determinação, vícios e paradigmas mais voláteis, criatividade a flor da pele. Tudo isso procede, a experiência comprova! Como também é correto afirmar que as idades biológica e emocional não guardam relação de  proporcionalidade temporal. Há jovens de 20 anos com a mente já envelhecida, e idosos de 80 anos rejuvenescidos para a vida e o trabalho.


O fundamental é que as pessoas queiram fazer compartilhando, interagindo, respeitando.

ENVOLVIMENTO E PARTICIPAÇÃO
Das diversas formas de trabalho coletivo, a Equipe de trabalho é sem dúvida a mais evoluída. Aqui os graus de mobilização e participação atingem escala máxima. É diferente dos Grupos de Trabalho, onde a interação varia de intensidade conforme sejam as tarefas desenvolvidas, e a participação decorre do grau de competência. Outra característica dos Grupos é que as decisões se dão por maioria.

Já nas Equipes de Trabalho o envolvimento dos integrantes entre si e a equipe se reveste de integralidade. A participação é livre, por isso intensa. As decisões ocorrem por consenso, o que alimenta a responsabilidade de todos para com os resultados. Aqui todos participam da definição das metas e objetivos e as interações são permanentes.

SINERGIA
Numa combinação química, a junção de dois elementos origina um terceiro, completamente diferente. Ao reunirmos três átomos de oxigênio, obtemos um produto novo, o ozônio.

Numa combinação de pessoas ocorre algo semelhante. A Equipe de Trabalho está longe de ser a mera adição aritmética de seus integrantes. A interação das diferentes pessoas desencadeia um processo que chamamos Sinergia. O choque dos valores, experiências e das ideias individuais, com seus arcabouços e amplitudes diferenciados, adentra num sistema de confrontação e posterior equilíbrio, se amplificando, resultando em produtos e resultados de qualidade exponencialmente mais elevada.

Porém isso só ocorre quando os integrantes estão efetivamente envolvidos e mobilizados, constituindo uma unidade orgânica, a Equipe de Trabalho.

GERENCIAMENTO
Em qualquer organização o processo gerencial corresponde à função de:

·        comandar
·        coordenar
·         controlar 
·         orientar 
·        avaliar e
·         retroalimentar

Corresponde ainda a função de interagir as diversas unidades institucionais responsáveis pela execução dos serviços, integrando suas ações.

Para o gerente, o grande desafio é abdicar das práticas fáceis de gerenciamento, cujas bases - ainda que ignoradas, estão assentadas no autoritarismo.

Ao gerente da qualidade é imposto um novo desafio: o equilíbrio de usar a autoridade sem ser autoritário.


No gerente autoritário algumas características são bastante definidas:

1. As regras e regulamentos são inquestionáveis. Constituem um fim em si, rituais dogmáticos a serem observados com obstinação doutrinária.

2. A obediência e o respeito são características fundamentais, guardadas com renovado fervor. 

3. A autoridade é um ente como que metafísico, jamais se permitindo qualquer atitude de questionamento. A submissão é completa em relação ao superior, mas em relação aos hierarquicamente em posição inferior, exerce uma postura dominadora.

4. Vive enquadrado, comprimido, sempre em busca de um bode expiatório para liberar sua agressividade.

5. Como desconhece a dimensão do equilíbrio, tende sempre aos extremos. O raciocínio se move em dicotomias, é sempre oito ou oitenta.

6. As modificações o incomodam sobremaneira. Agarra-se às âncoras que encontra para impedir o movimento. 

7. Para compensar a carga de agressividade que impõe aos subordinados, estabelece interregnos de gratuita generosidade, concedendo pequenos favores e privilégios.

É natural que, atuando desta forma, o gerente acabe garroteando seus subordinados, confinando-os a uma camisa de força que embota a criatividade e a interação, limitando em muito os graus de liberdade. Decorre um sentimento de responsabilidade restrito ao trivial, ao eminentemente necessário. Um ambiente de insegurança se estabelece quando as rotinas sofrem abalo ou ruptura, e a dependência ante a gerência é explicita.

DIMENSÕES
A ação gerencial é uma convergência de basicamente quatro dimensões:

·         Técnica
·         Administrativa 
·         Interpessoal 
·         Política.

A primeira pressupõe a escolha da tecnologia mais adequada para enfrentar com sucesso a situação-problema.


Na segunda dimensão - a administrativa, o gerente emprega sua experiência para, delegando tarefas e ações aos integrantes da equipe, alcançar os objetivos e metas programados, se valendo de seu papel de educador: orientando, avaliando, promovendo o feedback. Vale-se de um conjunto de fluxos e rotinas, quase sempre limitantes, carentes de permanente adequação. Sobre as demais dimensões refletiremos a seguir.

CONFLITOS
Administrar pessoas é administrar conflitos. Desta forma o conflito deve ser identificado, debatido e solucionado, para que deste processo se originem lições para toda a Equipe.

Nas organizações ainda é comum o escamoteamento dos conflitos, o "empurra com a barriga", a política do "acumular forças para derrotar o inimigo".
Nada mais antiprodutivo e falacioso.

O conflito pode se transformar num poderoso instrumento de educação da Equipe. Pode se constituir num insumo importante no processo de conhecimento e crescimento de cada um, desde que preceda a postura de que "ganham todos". Nas discussões não deve existir um perdedor. O debate será sempre dirigido no sentido de criar um novo ambiente. As discussões serão claras e diretas, abertas e francas, sempre fraternas, pois as posições antagônicas originarão uma ideia superior, construtiva para as relações interpessoais e para a Equipe.

As posições consolidadas, intransigentes, preto no branco, as verdades absolutas não se aplicam no jogo democrático. As regras que valem aqui são as do intercâmbio, do compartilhamento, do desprendimento, de reconsiderar os próprios pontos de vista para fazer brotar a solução coletiva. Este modelo implica que os integrantes estudem com profundidade os assuntos em questão para que as discussões não resvalem para a mediocridade e o falso academicismo.

Não só os problemas se resolvem de melhor maneira, mas a própria equipe se revitaliza, se renova, se refaz a cada dia.

Não existe inovação sem criatividade.

A tendência de grande parte das pessoas é considerar a criatividade como algo alienante, que abstrai a realidade, uma espécie de ilusionismo mediúnico a amortecer a concretude, algo fora do alcance das pessoas comuns. Definitivamente, isto não procede.

A criatividade nada mais é que a capacidade de manter o pensamento livre, desobstruído para descobrir o que está encoberto, para poder identificar o que é novo e transformador. Uma claridade que nos auxilia a diferenciar o joio do trigo, o discernir a substância do adereço.

A criatividade não é uma espécie de encantamento, algo místico que se adquira por hereditariedade ou benção dos céus. É um insumo palpável, bem concreto, que se domina com os estudos e a prática, o exercício.

Algumas orientações podem auxiliar no afloramento da criatividade:

1. Estabelecer um tempo próprio para reflexões sobre os trabalhos individual e da Equipe, das tarefas diárias, buscando uma relação com a realidade em volta;

2. Com certa frequência realizar reuniões de trabalho fora do gabinete, em ambiente que provoque a ruptura com a inércia cotidiana.

3. Trazer sempre convidados para fazer palestras, exposições, que desnudem outras facetas das questões, que lancem claridade sobre outros lados, obscuros ainda para alguns.

4. Atuar sempre com otimismo e entusiasmo.

5. Discutir assuntos que não abordem diretamente o trabalho imediato da Equipe, mas que amplificam o poder de recepção de nossas antenas, ampliando nossos horizontes. 

6. Fomentar sempre as discussões e o livre debate, a divergência de ideias e estratégias, como instrumento diuturno de trabalho.

7. Interagir com outros cenários e ambientes, ainda que não sejam de áreas afins. 

8. Criar um espaço e tempo para dinâmica de leitura em grupo, alternando assuntos técnicos, poesia, teatro, etc.

9. Revitalizar o local de trabalho, deixando-o permanentemente limpo mudando periodicamente a posição dos quadros, mesas, armários, vasos de flores, etc. Do mesmo modo, com certa periodicidade, trocar os próprios objetos e equipamentos.

10. Procurar desenvolver os trabalhos com o auxílio de música instrumental, num volume adequado.

11. Ao menos uma vez por mês, programar saídas coletivas: participação em eventos como palestras, simpósios, seminários técnicos; mas, também, teatro, cinema, circo, festividades cívicas, eventos culturais e sociais que fortaleçam os laços de convivência.

Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento Estratégico Quasar K+ e a tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.