sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Planejamento & exclusão


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Planejamento: a imagem é tudo?


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Saúde, segurança e educação: o centro da campanha eleitoral


Uma pesquisa mostra que a prioridade dos brasileiros são serviços públicos de mais qualidade e compatíveis com os tributos pagos

                               Sala de espera na zona sul de São Paulo
Do El País
Nos anos 1980 e 1990, os brasileiros apontavam a hiperinflação como o inimigo número um do país em todas as pesquisas de opinião. Depois, era o desemprego que liderava a lista de preocupações nos anos 2000. Agora, os brasileiros apontaram a saúde, segurança pública e a educação como os principais problemas do país neste ano em que serão realizadas novas eleições presidenciais. Esse foi o resultado a que chegou uma nova pesquisa da Confederação Nacional da Indústria(CNI), realizada em parceria com o Ibope. Com 49% de citações pelos consultados, a saúde apareceu no topo, violência e criminalidade tiveram 31% das indicações, seguidas por educação, com 28%.
O levantamento, chamado de Retratos da Sociedade Brasileira – Problemas e Prioridades para 2014, contou com mais de 15.000 entrevistas, realizadas em todos os Estados do Brasil e no Distrito Federal. Os resultados vêm confirmar as demandas mais relevantes apontadas pelos manifestantes durante o mês de junho, e que devem ser uma cobrança permanente para qualquer um que assuma a presidência no início de 2015.
De acordo com Murillo Aragão, analista político e presidente da Arko Advice, esse eixo de reivindicações deverá guiar as campanhas dos candidatos à presidência. “A oposição vai tentar explorar esse caminho, dizendo que o Governo fez pouco nessas áreas. Já Dilma deverá turbinar seu discurso com dados que apontem uma trajetória de melhoria, prometendo um futuro com mais avanços”, diz ele.
Para Aragão, um caso concreto é a reivindicação relacionada à saúde. “O Mais Médicos, sem dúvida, será usado como exemplo de um programa que está melhorando a situação da saúde pública e que deveria ser aumentado.”
Outro ponto importante da pesquisa é que o aumento do salário mínimo e as políticas de promoção do emprego acabaram ficando em segundo plano, com 23% e 18% das escolhas dos entrevistados, respectivamente. Alinhado a essa menor preocupação com a estabilidade econômica, o item que teve menos indicações dos entrevistados foi a inflação, com 14% das indicações para entrar na lista de prioridades do Governo. Isso reflete o quadro de satisfação do brasileiro com a melhora da renda nos últimos anos, o que tirou o custo de vida do centro das preocupações.
No final do mês passado, a CNI havia divulgado uma pesquisa que mostrou um aumento na taxa de confiança do consumidor. De acordo com o levantamento, os brasileiros estavam mais confiantes em dezembro do que no começo do ano. "Isso mostra que a fase de cobrança por uma estrutura econômica mais estável já está muito menor do que no passado e que o foco passou a ser serviços públicos de mais qualidade", diz Aragão.
A preocupação com a corrupção foi o sexto item mais citado pelas pessoas consultadas pelo levantamento. Para Paulo Fernando Carneiro de Andrade, professor do Centro de Ciências Humanas da PUC- Rio, esse tipo de manifestação revela um passo importante da sociedade brasileira. "Hoje já se reconhece que a questão da corrupção não é apenas moral. O brasileiros percebem que é necessária a criação e o aprofundamento dos mecanismos de vigilância dos servidores públicos", diz.
Na avaliação de Renato da Fonseca, da área de pesquisa e competitividade da CNI, o levantamento aponta um sentimento popular de saturação no pagamento de tributos altos, sem uma contrapartida dos serviços públicos. “Esse quadro acaba se parecendo muito com o que detectamos na pesquisa de avaliação mensal de avaliação do Governo. Todos os políticos deveriam pensar em soluções de prazo mais longo para essas áreas”, diz ele.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Brasil é o 2º país emergente mais vulnerável, diz Fed


Relatório enviado ao Congresso cita o Brasil 11 vezes e o coloca no grupo de países que mais sofreram com a recente fuga de capitais

Do Estadão

WASHINGTON - O Brasil é a economia emergente mais vulnerável depois da Turquia, na avaliação do Federal Reserve americano, que atribui a recente turbulência nesses países a "desenvolvimentos adversos" não relacionados com sua decisão de iniciar o processo de retirada de estímulos monetários da maior economia do mundo, o chamado tapering.
No relatório semestral sobre política monetária enviado ontem ao Congresso, o Fed cita o Brasil 11 vezes e o coloca no grupo de países que mais sofreram com a recente fuga de capitais de ativos "arriscados". O documento de 49 páginas traz um "índice de vulnerabilidade" de 15 países emergentes, na qual a Turquia aparece na pior posição, seguida do Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul - o grupo batizado de "cinco frágeis". No outro extremo estão Taiwan, Coreia do Sul, Malásia e China.
O índice é composto por seis indicadores que revelariam a capacidade do país enfrentar choques econômicos ou financeiros, entre os quais o resultado das transações com o exterior, a dívida pública bruta, a expansão do crédito para o setor privado nos últimos cinco anos e o tamanho das reservas internacionais, todos considerados em relação ao PIB. Os outros dados são a inflação média dos últimos três anos e a relação entre dívida externa e exportações.
Na avaliação do Fed, os investidores estão "diferenciando" entre os mercados emergentes e castigando aqueles vistos como mais vulneráveis, entre os quais o Brasil.
O relatório reconhece que a turbulência nos mercados emergentes no fim do primeiro semestre "parece" ter sido provocada pela indicação do Fed de que poderia dar início à retirada do estímulo monetário no fim do ano.
Mas a volatilidade vista em janeiro decorre de outros fatores, sustenta o documento. Em dezembro, o banco central americano anunciou que começaria o processo de redução da compra mensal de ativos pela qual mantém as taxas de juros de longo prazo próximas de zero.
"Diferentemente do último verão, houve pouca mudança nas expectativas em relação à política monetária dos EUA desta vez", observa o relatório, em relação à decisão de dezembro. Na avaliação do Fed, a turbulência nos emergentes foi provocada por "desenvolvimento adversos" nesses próprios mercados, entre os quais a desaceleração da atividade industrial na China, a desvalorização de peso argentino e a intervenção da Turquia para sustentar sua moeda.
Os países vulneráveis sofreram saída de capital, depreciação cambial e aumento das taxas pagas pelos bônus que emitem. Alguns emergentes "continuam a ter vulnerabilidades econômicas e financeiras significativas e mesmo economias com posição de certa forma forte enfrentam o desafio de reforçar a confiança dos investidores em um ambiente tenso", pondera o relatório.
Reação. O Fed ressalta que o Brasil e outros países emergentes reagiram à volatilidade verificada desde o primeiro semestre e adotaram medidas para tentar estabilizar suas economias. O Banco Central brasileiro aumentou a taxa básica de juros em 3,25 pontos porcentuais desde abril, para 10,5%. Também flexibilizou restrições adotadas para conter a entrada de capital no País no momento em que a política monetária superexpansiva americana aumentava a liquidez internacional.
Esse movimento começou a ser revertido em dezembro, com o anúncio do Fed de que reduziria de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões a quantidade de títulos do Tesouro e bônus lastreados em hipoteca que compra a cada mês. Novo corte de US$ 10 bilhões foi aprovado em janeiro. Apesar de as aquisições terem por objetivo reduzir a taxa de juros de longo prazo, um de seus efeitos colaterais foi o aumento da quantidade de dinheiro no mercado, o que estimulou a entrada de capitais nos países emergentes. Com a redução do estímulo, esse movimento começa a se reverter.
O relatório afirma que os emergentes devem ir além das medidas de curto prazo voltadas para conter a volatilidade e defende a adoção de reformas monetárias, fiscais e estruturais que reduzam vulnerabilidades e os tornem mais resistentes a choques. "Essas reformas vão demandar tempo e os investidores globais vão acompanhar de perto o seu progresso."


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Para evitar crise, Brasil precisa diversificar matriz energética

  Do Deutsche Welle
País é hoje dependente de hidro e termoelétricas. Para especialistas, modelo é arriscado e caro. E saída passa por explorar fontes renováveis e potencial das regiões. Solução a curto prazo, porém, é vista com ceticismo.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão de terça-feira (05/02), que atingiu partes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, não foi causado, em princípio, por excesso de consumo. Mas de acordo com especialistas ouvidos pela DW, o Brasil precisa diversificar urgentemente sua matriz energética – hoje altamente dependente das hidroelétricas e, em casos de emergência, das termoelétricas.

As termoelétricas são acionadas sempre que o setor hidroelétrico – responsável por 63% da energia gerada no país – ameaça não dar conta da demanda de consumo. Segundo especialistas, a curto prazo, nenhuma outra fonte de energia renovável será capaz de suprir as atuais necessidades do sistema, mas, para os próximos anos, é preciso investir em alternativas.
“As energias renováveis não são oportunidades que possam ser implementadas a curto prazo, porque a lição não foi feita. O planejamento do Brasil é só aumentar a oferta de hidroelétricas. E o governo acaba não atentando para as alternativas”, avalia Artur de Souza Moret, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Federal de Rondônia (Unir). "A tendência 'monotecnológica' do país é um entrave à eficiência do planejamento enérgico."

Nesta semana, com as termoelétricas ligadas, a energia no Brasil é vendida ao preço recorde de 822,23 de reais por megawatt-hora (MWh), quase o dobro do valor praticado na última semana de janeiro. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o preço da energia oriunda das termoelétricas é oito vezes mais cara do que a produzida em parques eólicos, por exemplo.

Como são usadas geralmente em ocasiões de emergência, o valor da energia gerada pelas termoelétricas precisa compensar o período de manutenção em que a usina não foi utilizada. “Ninguém tem dúvida de que qualquer sistema elétrico que queira ter certa eficiência na segurança do atendimento precisa de usinas termoelétricas, mas os preços precisam ser mais baixos”, argumenta Elbia Melo, presidente executiva da ABEEólica.

Para isso, o coordenador do Laboratório de Energia Solar da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Arno Krenzinger, defende que a matriz energética do país seja mais diversificada. “Não adianta o governo fazer um decreto e tentar implementar tudo ao mesmo tempo. Os custos estão baixando. A soma de pequenas contribuições pode levar o país a um melhor desempenho energético”, opina.

Potencial perdido
De acordo com os últimos leilões promovidos pelo governo, o preço da energia eólica tem sido equivalente à hidroelétrica. Já a térmica e a solar são três vezes mais caras. A atual capacidade instalada de energia eólica, no entanto, não é suficiente para atender às necessidades do sistema.
 

Painéis solares na China, líder mundial no setor

Segundo a ABEEólica, 48 parques que correspondem a 1,2 gigawatts de capacidade instalada estão ainda sem linha de transmissão. A entidade espera que até o final de março 26 dessas usinas entrem em funcionamento.
“Se o Brasil tivesse investido 30 anos atrás para termos um parque de usinas em funcionamento, o país não seria tão suscetível ao problema de falta de chuva. O potencial hídrico do Brasil é suficiente para abastecer o país inteiro, mas o potencial eólico é muito superior ao que é necessário”, analisa Krenzinger.

Para o diretor do Laboratório de Energia dos Ventos da Universidade Federal Fluminense, Geraldo Tavares, a realização de leilões de energia eólica representa um entrave para o setor.

“Isso nunca deu certo no mundo todo. O governo deveria permitir que quem quiser produzir energia eólica faça a ligação com a rede, desde que haja um preço fixo por megawatt/hora. O leilão não permite que o preço baixe muito e se torne competitivo”, explica.

Segundo o professor Artur de Souza Moret, da Unir, o risco de falta de energia poderia ser “zero” se houvesse mais investimentos em energia solar e fotovoltaica. “No Brasil inteiro, a quantidade de sol é muito grande. Com os painéis solares, o consumo de energia subiria na mesma proporção, mas parte disso poderia ser atendido pela própria energia solar”, afirma.

Altos custos
Com percentual baixo de capacidade instalada em relação às demais fontes, a energia solar ainda é muito cara no país por causa do alto custo dos equipamentos, mas poderia reduzir o uso de energia térmica em momentos de crise.
 

Usina hidroelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins

“Por causa do alto preço do diesel, as usinas fotovoltaicas são competitivas em relação às termoelétricas, mas em nenhum país do mundo a energia solar pode ser tida como base. Ela sempre vai ser complementar, porque não está disponível a todo momento. Não existe energia solar à noite, por exemplo”, diz o coordenador do Laboratório de Energia Solar da UFRGS.

Segundo Moret, o Brasil precisa trabalhar com as regionalidades no setor energético. “As fontes devem ser mais localizadas. Por exemplo, porque não substituir o diesel por óleo vegetal ou biodiesel em Mato Grosso e Rondônia, que têm grande produção de soja? Em São Paulo, por que não utilizar ainda mais o bagaço de cana?”, questiona.

Krenzinger, por sua vez, avalia que a segurança do sistema elétrico também depende do investimento em várias fontes de energia: “Acredito que no futuro essa proporção venha a se corrigir, porque a energia eólica tem oferecido um preço interessante em relação à hidroelétrica. Nenhuma matriz pode ser única. O sistema é mais seguro se há várias fontes.”


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O anti-planejamento: Jogos do Rio podem custar quase 4 vezes mais



Jefferson Puff, da BBC Brasil

Autora de levantamento feito pela Universidade de Oxford alerta para risco de gastos excessivos na Olimpíada do Rio em 2016

A realização de Jogos Olímpicos oferece grande risco financeiro e a Olimpíada do Rio pode chegar a ficar quase quatro vezes mais cara do que o orçamento inicial, na opinião de uma pesquisadora da Universidade de Oxford.

Allison Stewart, coautora de um estudo que concluiu que as Olimpíadas desde 1960 têm estourado orçamentos em 252%, diz ver o risco de que os Jogos do Rio tenham um aumento na mesma magnitude do verificado nos Jogos de Londres em 2012, orçados inicialmente em US$ 3,95 bilhões e com custo final de US$ 15 bilhões - um aumento de mais de quatro vezes o valor inicial.

"Com base nos nossos estudos e no que temos visto do Rio eu diria que não é impossível que o orçamento dos Jogos de 2016 também tenha um aumento nesta magnitude", disse ela em entrevista à BBC Brasil.

Para a doutora pela Universidade de Oxford, sediar uma Olimpíada é um dos megaprojetos com maior risco financeiro que existe. Em 2012, ela copublicou o estudo que analisou todos os orçamentos dos Jogos realizados entre 1960 e 2012.
Ao fazer comparações entre os orçamentos apresentados pelas cidades-sede ao Comitê Olímpico Internacional (COI) no momento da candidatura e as contas finais ao término dos Jogos, chegou-se à média de gastos além do previsto de 252%.
Nenhuma Olimpíada fechou a contabilidade dentro das previsões iniciais.

"Nenhum outro tipo de megaprojeto (ferrovias, grandes hidrelétricas, megaeventos) tem 100% de consistência de exceder o orçamento como as Olimpíadas", dizem os pesquisadores.

Stewart alertou para a necessidade de monitoramento dos gastos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio-2016, cujos gastos totais foram estimados em R$ 22 bilhões no dossiê de candidatura.

Nesta semana, o Comitê Rio-2016 divulgou pela primeira vez um orçamento operacional de R$ 7 bilhões. Também foi divulgada uma versão incompleta da Matriz de Responsabilidades dos Jogos – o documento que detalha os projetos a serem concretizados para a Olimpíada. De 52 projetos citados na Matriz, apenas 24 foram orçados, num total de R$ 5,6 bilhões.

Os organizadores vêm sendo criticados pelo atraso em divulgar os dados e a falta de definição, mas argumentam que estão trabalhando dentro dos prazos.

Veja os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil - Seu estudo foca na diferença entre os valores dos orçamentos iniciais, incluídos nos dossiês de candidatura ao COI, e os custos finais de sediar uma Olimpíada. É possível afirmar que as cidades-sede tendem a apresentar orçamentos mais baixos do que a realidade, numa tentativa de legitimar o projeto?

Allison Stewart - É curioso, porque de fato a intenção de se pedir um orçamento para alguma coisa é prever custos, informando o máximo que pode-se gastar para um determinado projeto ou atividade. No caso das Olimpíadas, no entanto, vemos que o orçamento inicial é sempre o mais baixo possível, e que na verdade os orçamentos apresentados nesta etapa dificilmente poderão ser colocados em prática.
Outra coisa é que as cidades-sede, ao assinarem o contrato com o COI, assinam também um cheque em branco, para cobrir todos os custos que ultrapassem a previsão inicial.
"Com base nos nossos estudos e no que temos visto do Rio eu diria que não é impossível que o orçamento dos Jogos de 2016 também tenha um aumento nesta magnitude"

Imagine que você chama um pedreiro para reformar sua casa. Você diz a ele que há um orçamento, mas que todos os custos excedentes serão cobertos. Obviamente não é o melhor estímulo para que ele mantenha as contas da reforma em dia. Nas Olimpíadas, estes recursos de cobertura estão saindo do bolso do contribuinte, então poder monitorar o orçamento é crucial.

BBC Brasil - Você diria que nas últimas décadas os países que sediaram Olimpíadas falharam em criar iniciativas para aprimorar os mecanismos de monitoramento do uso de recursos públicos?

Allison Stewart - Se você analisar os dados dos Jogos realizados entre os anos 2000 e 2010 vai perceber que as cidades-sede estavam começando a ter uma previsão melhor dos custos finais e a reduzir de forma significativa os gastos excedentes.
A tendência foi revertida pelos Jogos de Londres, no entanto, que voltaram a aumentar os gastos excedentes, e com base nas evidências que já temos, as Olimpíadas de Sochi e do Rio também devem mostrar gastos excessivos.

BBC Brasil - A Matriz de Responsabilidades dos Jogos do Rio só foi divulgada nesta terça-feira, com atraso e após pressão do TCU (Tribunal de Contas da União) e do COI. A demora e a falta de definições quanto ao orçamento são um mau sinal quanto à transparência? É comum que as cidades-sede demorem a divulgar seus orçamentos?

Allison Stewart - Não é raro que as cidades tomem um tempo para apresentar seus orçamentos, mas pouco mais de dois anos antes dos Jogos é um atraso considerável, sim. O único orçamento disponível até então era o do dossiê de candidatura, em 2009, e até agora o Rio não havia divulgado nenhuma atualização.
É difícil avaliar o que essa atitude em si nos diz sobre o que podemos esperar da contabilidade dessas Olimpíadas. Outras cidades-sede também já atrasaram e isto certamente levanta dúvidas sobre a transparência. Se eles não conseguem divulgar um orçamento e atualizá-lo de forma mais regular, o que estão fazendo com o dinheiro?
E por que os contribuintes não têm o direito de monitorar esses gastos? Em Londres, o orçamento foi publicado cinco anos antes e tinha atualizações frequentes.

BBC Brasil - Os Jogos de Londres foram orçados inicialmente em US$ 3,95 bilhões e o custo final foi fechado em US$ 15 bilhões, um aumento de quase quatro vezes o valor inicial. No Rio o dossiê de candidatura contém um orçamento de US$ 9 bilhões. Com base na sua experiência, é possível um aumento semelhante aqui?

Allison Stewart - Com base nos nossos estudos e no que temos visto do Rio eu diria que não é impossível que o orçamento dos Jogos de 2016 também tenha um aumento nesta magnitude.
Em Sochi não temos tido nenhuma atualização orçamentária e há chances de gastos excedentes semelhantes aos de Londres. Eu ficaria surpresa devido ao clima político no Brasil neste momento, com os protestos, mas definitivamente não é impossível.

BBC Brasil - Se os Jogos Olímpicos têm na sua essência uma sobrecarga dos recursos públicos, como sustentar os supostos benefícios dos legados da competição para a cidade-sede?

"Se no Brasil o TCU está se queixando de falta de acesso a dados orçamentários eu diria que isto é um motivo de bastante preocupação e deveria ser levado a sério."

Allison Stewart - É uma faca de dois gumes. De um lado há, de fato, a possibilidade de obter grandes avanços em uma cidade, com obras de infraestrutura que poderiam levar de 20 a 30 anos para angariar o apoio político necessário para sair do papel.
Dito isso, é claro que pode-se ao mesmo tempo acabar numa situação como Montreal (1976), que teve um custo excedente de quase 800% e levou 30 anos para pagar suas Olimpíadas. Claro que este é o pior caso possível, e esperamos que isso não aconteça no Rio, mas há sempre este risco. O uso do termo legado tem sido deturpado. O legado de uma Olimpíada é tudo que sobra para a cidade-sede após todos os turistas irem para casa, de bom e de ruim.

BBC Brasil - Como você avalia a posição do COI em relação aos gastos olímpicos nas últimas décadas? O órgão tende a se isolar ou tem buscado alguma iniciativa de monitoramento, de controle?

Allison Stewart - O COI introduziu no ano 2000 um programa chamado Gerenciamento de Conhecimento dos Jogos Olímpicos (OGKM, na sigla em inglês), que é uma iniciativa excelente.
Dito isso, ainda há muito mais que o COI poderia fazer. Estruturas temporárias e a reutilização de grandes estruturas existentes ao invés de construir novas são algumas das recomendações do COI, por exemplo. Mas isto não significa que eles vão selecionar a cidade que apresentar o orçamento com maior custo-benefício. Este não tem sido um dos critérios mais importantes na seleção de uma cidade olímpica.

BBC Brasil - No Brasil o TCU, principal agente fiscalizador de contas públicas do país, tem criticado a falta de informações orçamentárias por parte dos organizadores dos Jogos do Rio. Isto tem acontecido em outros países?

Allison Stewart - O papel dos órgãos auditores é inacreditavelmente importante para garantir que os Jogos ocorram com boa disciplina fiscal. Infelizmente vemos em muitos países que os auditores só recebem o poder que realmente necessitam para monitorar as contas olímpicas após o término das competições.
Eles acabam tendo um papel de produzir relatórios apontando todos os erros cometidos, mas muitas vezes não conseguem ter a chance de monitorar os custos enquanto as decisões estão sendo tomadas, com transparência e possibilidade de intervenção. Claro que isto varia de país para país. Se no Brasil o TCU está se queixando de falta de acesso a dados orçamentários eu diria que isto é um motivo de bastante preocupação e deveria ser levado a sério.

BBC Brasil - Na sua opinião, o que deveria ser o foco de preocupação da sociedade, dos órgãos auditores, do governo e dos organizadores das Olimpíadas do Rio nestes próximos dois anos, para evitar problemas semelhantes a outros Jogos?

Allison Stewart - Todos que têm interesse em que tudo corra bem deveriam se envolver ao máximo para monitorar e fiscalizar a preparação para os Jogos do Rio, tentando garantir que estão por dentro do que está acontecendo com o orçamento conforme os Jogos tomem forma. Estudamos alguns casos em que os últimos dois anos de preparação foram os que registraram os maiores gastos excessivos.

Nessa altura, embora ainda haja oportunidades para influenciar alguns dos gastos, muitas decisões já foram tomadas. Tentar intervir agora para evitar maiores estragos é algo crucial.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

"O dinheiro não fede!"


1852: Aberto o primeiro banheiro público do mundo

 Do Deutsche Welle

Em 2 de fevereiro de 1852, a administração municipal de Londres abriu o primeiro banheiro público do mundo na Fleet Street, o centro da imprensa da capital britânica. A instalação sanitária era só para homens.


Garota vestida de romana junto à entrada de um banheiro público em Londres, por ocasião dos 150 anos dos banheiros públicos britânicos

Onde vive gente, produz-se lixo. E o que entra pela boca em algum momento terá que sair. Os nômades ainda não tinham nenhum problema com a evacuação. Faziam seus "montinhos" despreocudamente em qualquer parte, afinal logo depois seguiriam para outro lugar. Só com o sedentarismo é que a eliminação dos excrementos tornou-se um problema logístico.

Os primeiros toaletes públicos conhecidos foram na Roma antiga. Tais latrinas privadas eram extremamente lucrativas, pois seu proprietário cobrava duas vezes: primeiro do usuário, depois do hortelão, que comprava as fezes e a urina para adubar seus canteiros. Cientes do bom negócio, os concessionários das latrinas já faziam publicidade, com o slogan: "Cuide de não defecar na rua, senão a ira de Júpiter recairá sobre você".

Longa história dos sanitários públicos
Pressupondo uma excelente renda para os cofres públicos, o imperador Vespasiano tributou os proprietários de latrinas com um imposto sobre a urina. Seu filho Tito foi inicialmente contrário a essa tributação. Quando seu pai lhe passou debaixo do nariz uma moeda recebida com o novo imposto, ele teria dito – fascinado: "Pecunia non olet!" ("O dinheiro não fede!").

No século 3º d.C., os romanos podiam escolher entre 144 instalações sanitárias públicas para se aliviar. Ainda hoje, o refinado sistema de cloacas da cidade causa admiração aos engenheiros.

Mas, então, começou a tenebrosa Idade Média. De nada valeram as conquistas dos romanos, pois a falta de limpeza nas cidades atingiu um ponto absolutamente crítico. As fezes eram despejadas nas ruas, onde os excrementos humanos e dos animais se juntavam numa imundície fétida. Quem não tinha monturo próprio, usava o do vizinho ou simplesmente despejava o penico na rua.

Ainda no começo do século 19, um crítico contemporâneo escreveu sobre a situação das ruas de Berlim: "Na beira da calçada são esvaziados os urinóis noturnos e todo o lixo da cozinha, jogados os animais domésticos mortos, que exalam um mau cheiro insuportável… Em Berlim, você tem sempre que tapar o nariz com um lenço… Se chove, os montes de dejetos são espalhados pelas ruas, pois eles frequentemente ficam esperando dias e noites pelo recolhimento. E no escuro, pode-se por descuido pisar neles, sujando-se até o joelho".

Sanitários públicos em Paris
Um passo decisivo na tenebrosa história da higiene só veio com a Revolução Francesa. No início dos anos 90 do século 18, homens esclarecidos mandaram construir sanitários públicos nas praças parisienses. Apesar disso, a literatura apega-se ao boato de que os toaletes públicos dos tempos modernos tiveram sua origem na Inglaterra e que a inauguração da primeira instalação sanitária pública na Fleet Street de Londres, em 1852, teria sido uma data muito especial para a civilização.

Um engano perdoável, pois foram os britânicos que presentearam o mundo com o WC (water closet). Esta invenção genial, nós a devemos a um certo Sir Henry Harrington. Já em 1589, ele mandou construir em sua casa, em Kelsington, uma fossa sanitária com descarga de água. Porém, só em 1775, quando um certo Alexander Cumming registrou a patente de um vaso sanitário com descarga e vedação de odor, é que começou um rápido desenvolvimento na ilha britânica, durante o qual foram inventados todos os tipos ainda hoje comuns de WC - com descarga hidráulica e bloqueamento de cheiro, através do escoamento por sifão.

Contudo, tampouco na Inglaterra de meados do século XIX podia-se falar de uma canalização perfeita. Os proprietários de casas despejavam o esgoto, através de tubulações, nas águas mais próximas. Os rios transformavam-se em caldos fedorentos. Do especialista em esgotos William Dunbar, pode-se ler: "As crianças tinham prazer em acender as bolhas de gás que subiam dos leitos dos rios. Surgiam então chamas de até 6 pés de altura, as quais corriam até 100 metros sobre a superfície da água. Cadáveres de animais boiavam em grande número nos rios. E encalhavam aqui ou acolá. Ninguém era obrigado a eliminá-los".

Em Londres, foram tomadas, já em 1836, as primeiras medidas de limpeza pública, uma vez que os detritos das cidades industriais do Reino Unido nos primórdios do capitalismo exalavam um enorme mau cheiro. Nas décadas seguintes, não se desenvolveram em nenhum país do mundo tantos métodos de purificação do esgoto como na Inglaterra. O padrão de desenvolvimento sanitário dos britânicos tornou-se modelo para a Europa continental.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O Dalí surrealista viajará ao Brasil durante a Copa do Mundo


Obras do artista, que tornou-se o rosto dos protestos contra os preços exorbitantes do país, chegarão em maio


Do El País

Após o sucesso das exposições de Paris e de Madri, a obra do pintor Salvador Dalí poderá ser vista no continente americano. Mais precisamente no Brasil, país da moda ao celebrar em menos de três anos dois acontecimentos esportivos importantes, como a Copa do Mundo, neste ano, e as Olimpíadas, em 2016. A exposição será inaugurada no final de maio no Museu de Arte de São Paulo (MASP), pouco antes do início do Mundial na cidade, em 12 de junho, com a partida entre Brasil e Croácia. Depois, viajará ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Segundo afirmações feitas ao EL PAÍS por Montse Aguer, diretora do Centro de Estudos Dalinianos: “Estaremos no Brasil neste ano em uma exposição coordenada pelo Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, a Fundação Gala-Salvador Dalí de Figueres e o Dali Museum de São Petersburgo”. Os três centros que tiveram relação, e muita, com a exposição Dalí. Todas as sugestões poéticas e todas as possibilidades plásticas, que bateu recordes de visitantes no Pompidou de Paris (790.000 pessoas), em 2012, e no Reina Sofia (730.000 visitantes), em 2013.

Segundo Aguer, que não deixou claro quais obras ou quantas cruzarão o atlântico: “O Brasil considera  2014 um ano crucial e quer que um dos acontecimentos do ano seja esta exposição protagonizada por Dalí. Será menor que as recentes, mas revisará todas as fases de Dalí e, em especial, seu período surrealista”.
O Museu de Arte de São Paulo (MASP) é considerado o maior da América Latina e conserva uma das coleções de arte mais importantes do continente. Logo antes do surrealismo de Dalí, o museu apresentará as volumosas esculturas do colombiano Fernando Botero, que poderão ser vistas a partir de março. A exposição do espanhol permanecerá aberta por um mês e depois viajará ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. O centro carioca já recebeu milhares de pessoas em exposições de artistas como August Rodin e Claude Monet.


No Rio, Dalí se encontrará sua tinta. Desde a última sexta-feira, uma página no Facebook, Rio $urreal, denúncia com a imagem do artista a alta dos preços, especialmente por causa da Copa, e pede um boicote geral. A página é ilustrada com um expressivo rosto de Dalí e o símbolo é sua típica barretina catalã (espécie de gorro). A página foi criada depois que a jornalista Patrícia Kalil, 35 anos, criou uma moeda em que substituía a efígie que simboliza a República pela cara de Dalí. A moeda, que ficou conhecida como 'surreal', ficou tão famosa na rede que muitos cariocas passaram a desenhar os bigodes do pintor sobre o rosto da República em notas autênticas. Dalí estará como em sua própria casa a partir de maio.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Um relatório do Governo dos EUA endossa um polêmico megaoleoduto


O Keystone XL, que unirá o Canadá e o golfo de México, tem pouco impacto ambiental, segundo o Departamento de Estado

Do El Pais


Ativistas protestam em frente à Casa Branca contra oleoduto Keystone XL./EFE

O Departamento de Estado publicou nesta sexta-feira a revisão do relatório sobre o impacto ambiental do oleoduto Keystone XL -um megaprojeto que unirá as areias betuminosas de Alberta, no Canadá, com as refinarias norte-americanas no golfo de México- cujo resultado, que minimiza os efeitos negativos para o meio ambiente, ressuscitou a esperança do setor petroleiro de que a Administração norte-americana aprove finalmente o projeto. A autorização do traçado do Keystone, que estava no limbo desde 2008 e ao qual se opõem de maneira amarga os ecologistas, se converteu tanto no símbolo da auto suficiência energética dos EUA que preconiza o presidente Barack Obama, como na prova de fogo de seu verdadeiro compromisso com a luta contra a mudança climática da qual também presume, pondo ao mandatário em uma difícil encruzilhada.
A autorização do traçado  se converteu tanto no símbolo da auto suficiência energética dos EUA que preconiza o presidente Barack Obama, como na prova de fogo de seu verdadeiro compromisso com a luta contra a mudança climática da qual também presume, pondo ao mandatário em uma difícil encruzilhada

O projeto, acolhido pelo Governo canadense desde 2008, tem um custo de 5,3 bilhões de dólares e contempla um traçado de quase 2.000 quilômetros onde percorreriam a cada dia 830.000 barris de óleo. Desde que solicitou sua construção pela empresaTransCanada Corp’s, o KeystonePipeline contou com a oposição dos grupos ecologistas que sustentam que o transporte do petróleo betuminoso desde o Oeste do Canadá até o golfo de México produziria emissões bem mais prejudiciais para o meio ambiente que a drenagem convencional, contribuindo seriamente para o aquecimento global. O relatório, publicado nesta sexta-feira pelo Departamento de Estado, estabelece que a construção do oleoduto teria um “impacto insignificante nos atuais índices de extração de xisto e areias betuminosas ou do petróleo que se refina na costa do Golfo”.
Contudo, este relatório do Departamento de Estado não supõe que a decisão definitiva esteja tomada. “O documento não implica uma resolução final, é só um passo a mais no processo”, advertiu o porta-voz da Casa Branca em coletiva de imprensa. Agora cabe ao próprio Departamento de Estado determinar se a construção do oleoduto é de interesse nacional, para o que terá que pesar o impacto econômico e ambiental do projeto, bem como os efeitos dessa determinação para a relação bilateral com o Canadá, a primeira fonte de petróleo estrangeiro dos EUA e seu principal sócio comercial. Em última instância, será o presidente Obama que dará a cartada final ou as costas ao Keystone XL.
O documento não implica uma resolução final, é só um passo mais no processo"
Jay Carney
Embora o presidente nunca tenha se pronunciado abertamente nem a favor nem contrário à construção do oleoduto, no ano passado, por causa da apresentação de sua estratégia ambiental na universidade de Georgetown, assegurou que “o interesse nacional dos EUA se daria por satisfeito se o projeto não exacerbasse de maneira significativa o problema da contaminação atmosférica”. O último relatório do Departamento de Estado ratifica essa tendência.
Os ecologistas fizeram da oposição ao Keystone XL seu principal cavalo de batalha até o ponto de promover no ano passado, em Washington, uma gigante marcha a favor do meio ambiente e contrária à construção do oleoduto, e a protagonizar numerosos protestos nos lugares onde Obama ia discursar.

Pressões por ambos os lados

Mas o presidente não só enfrenta a pressão dos grupos ambientais, que vêem no oleoduto um exemplo da dependência dos EUA dos combustíveis fósseis e da falta de compromisso do país para a luta contra a mudança climática. Pelo outro lado, os sindicatos consideram o projeto um motor importantísimo para a criação de postos de trabalho. Tanto os ecologistas como as organizações de trabalhadores são dois dos pilares do Partido Democrata, o que acentua ainda mais o dilema da Administração.
O Keystone XL dividiu a própria formação progressista. Vários senadores democratas que se lançam à reeleição em novembro pediram ao presidente que não adie sua decisão até que passem as eleições, como poderia fazê-lo. A impaciência também se estendeu entre as filas republicanas. O partido tem pressionado a Administração para que se pronuncie sobre o oleoduto e instaram Obama a fazer uso do poder executivo ao que apelou durante seu último discurso sobre o estado da União para que aprove seu traçado e demonstre seu interesse por impulsionar a economia.
O Departamento de Estado deve determinar se a construção do oleoduto é de interesse nacional, para o qual terá que pesar o impacto econômico e ambiental do projeto, bem como os efeitos dessa decisão para a relação bilateral com o Canadá

Outro das frentes abertas do presidente em torno do oleoduto é o Governo do Canadá, cada vez mais exasperado ante a demora da autorização. A TransCanada solicitou a permissão para construir o Keystone XL em 2008. Em janeiro de 2012, a Administração Obama recusou a petição alegando que a data limite que estabelecia o Congresso não outorgava tempo suficiente para realizar os estudos sobre impacto ecológico. Em maio deste ano, a empresa canadense voltou a apresentar seu pedido mudando o traçado para evitar uma zona ambiental protegida em Nebraska. “Este foi o projeto sobre recursos naturais mais submetido a revisões de toda a história”, assinalou o ministro de Recursos Naturais canadense, Joe Oliver, em uma entrevista há poucos meses.
Os grupos ecologistas, embora tenham se mostrados decepcionados por este documento, especificam, não obstante, que a revisão é um pouco mais favorável que o relatório inicial do ano passado, quando o alarme pelo impacto ambiental se minimizava bem mais. O fato de que as exportações de petróleo do Canadá para os EUA se incrementassem em 6% no ano passado, em relação a 2012, sem a construção do oleoduto, ou que petroleiras como Exxon optem por construir uma rede ferroviária para transportar o petróleo ante a incerteza que rodeia o projeto do Keystone XL, são fatores que outorgam um feixe de esperança a quem se opõem ao projeto.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Apagão atinge até 6 mi de pessoas; governo descarta racionamento




SÃO PAULO/BRASÍLIA, 4 Fev (Reuters) - Diversas regiões do Brasil tiveram corte de fornecimento de energia na tarde desta terça-feira por falhas no sistema de transmissão, deixando sem luz entre 5 milhões e 6 milhões de pessoas, em momento de baixa histórica dos reservatórios de hidrelétricas e de alta demanda por parte dos consumidores de energia.
O blecaute --o primeiro relevante no Brasil em 2014, ano em que o país recebe a Copa do Mundo-- ocorreu um dia após o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ter afirmado que o governo não enxergava "nenhum risco de desabastecimento de energia".
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, classificou como de "médio porte" a ocorrência nesta terça que atingiu cerca de 8 por cento da carga no Sul e no Sudeste --regiões mais afetadas.
Zimmermann afirmou que não há perigo de falta de energia do ponto de vista estrutural. "O sistema elétrico brasileiro tem capacidade instalada de cerca de 127 mil megawatts (MW) e o recorde da demanda de energia ontem (segunda-feira) foi de cerca de 84 mil MW", disse Zimmermann, descartando a possibilidade de racionamento de energia.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão foi originado por curto-circuitos em linhas de transmissão no Tocantins, uma da Intesa e outra da Taesa. Após a configuração da perda dupla na transmissão entre Miracema e Colinas, foi determinado o desligamento do circuito remanescente, da Eletronorte, resultando na separação física dos sistemas de transmissão Norte e Nordeste do restante do sistema elétrico nacional.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que o processo de desligamento orquestrado evitou um apagão maior. "Quando acontece um fenômeno, um acidente, para você evitar apagar toda uma região, você tem um sistema que corta pequenas cargas em certos lugares e evita efeito dominó que apague toda uma região."
A Eletropaulo, em São Paulo, a Celesc, de Santa Catarina, e a Light, no Rio de Janeiro, e a paranaense Copel foram algumas das distribuidoras que interromperam o fornecimento de energia elétrica. A CEEE-D, que atua no Rio Grande do Sul, informou que também teve áreas afetadas, mas não forneceu detalhes.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse a jornalistas no Rio de Janeiro que de 5 milhões a 6 milhões de pessoas foram atingidas pelo apagão.
Ele garantiu que as linhas de transmissão que falharam não operavam com sobrecarga de energia --além de um limite seguro de operação-- e que o blecaute não tem relação com a forte demanda de energia que tem ocorrido diante de altas temperaturas.
"Todos os equipamentos estão operando dentro dos padrões para os quais eles estavam planejados", afirmou Chipp.
RESERVATÓRIOS
Os reservatórios de hidrelétricas no Sudeste/Centro-Oeste, os mais importantes para o abastecimento de energia do país, iniciaram a semana a 39,58 por cento de armazenamento, uma queda de cerca de 1 ponto percentual desde a última quinta-feira.
Janeiro teve a pior ocorrência de chuvas para o mês desde 1954, resultando numa queda incomum dos reservatórios do país para esta época do ano, período úmido que normalmente abastece os rios.
"Temos uma quantidade de usinas no país bastante grande e uma diversificação que permite que, mesmo tendo um janeiro ruim, nós não tenhamos nenhum problema de abastecimento de energia elétrica", disse Tolmasquim, da EPE.
Para garantir o abastecimento, o governo tem lançado mão do acionamento das térmicas --cuja energia é mais cara. Segundo Zimmermann, cerca de 15 mil MW dos 21 mil MW disponíveis em usinas termelétricas estão acionados.
O secretário-executivo de Minas e Energia e o presidente da EPE reiteraram que o governo não deixará que as distribuidoras de energia tenham um impacto no seu caixa pelo custo das térmicas além daquilo que podem suportar.
Na semana passada, o preço de energia de curto prazo atingiu recorde histórico, acima de 800 reais o megawatt-hora (MWh). As distribuidoras estão expostas a essa volatilidade por conta da não adesão das hidrelétricas de Cesp, Copel e Cemig, ao processo de renovação antecipada e condicionada de concessões do setor elétrico em 2012.
"Nenhuma distribuidora foi responsável por ter causado isso. A descontratação está acima do que seria e a causa foram as concessionárias (de geração) que preferiram esperar até 2015 (pelo fim das concessões). Essa questão está sendo bem avaliada pelo governo e estudada no (Ministério da) Fazenda", disse Zimmermann.
No ano passado, a conta das termelétricas foi paga pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).