segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Políticos-anões e humores da natureza.

O Brasil não tem uma boa tradição de gestão pública. A máquina estatal encontra-se ainda com um elevado grau de engessamento, o que possibilita que a administração se prostre, ficando à mercê do político-anão de plantão. E quando refiro-me a político-anão, falo dos poucos, especializados na arte da oratória, da enganação, da trapaça e da corrupção. Não são todos, evidentemente, porque, felizmente, a maioria dos políticos é constituída por gente honesta, abnegada, que busca, com persistência e obstinação, corresponder às expectativas e ansiedades da população. Ocorre que os políticos-anões são como ervas-daninhas, são dotados da destruidora capacidade de colocar toda a plantação a perder. E o que tem resultado da inóspita equação “estado engessado-político anão” é um país que vivencia problemas que muitas nações já superaram séculos atrás.

A tragédia recente de Santa Catarina é um caso que exemplifica, à perfeição, o pressuposto.

O Estado amargou calvário parecido no ano de 1984, portanto deveria estar devidamente preparado para não se deixar surpreender com as “peças que a natureza prega”.

“Peças que a natureza prega”, “o volume de chuvas foi descomunal”; “as precipitações superaram todas as previsões”, “os temporais castigaram o Estado”, “foi uma fatalidade, imprevisível e inevitável”, apressaram-se em justificar políticos-anões, autoridades-anãs e responsáveis-anões, atribuindo a desgraça aos humores dos deuses dos vapores condensados na atmosfera.

Propositalmente, valendo-se da comoção causada pela tragédia, sonegam as informações fundamentais, aquelas capazes de identificar os verdadeiros responsáveis, os literais causadores do flagelo, os políticos-anões, os gestores-anões, e não a natureza, como alardeiam aos quatro ventos.

Não há como negar que o volume de chuvas foi bem superior ao que, ordinariamente, é registrado no Estado. Mas qualquer estudante de 2º grau dedicado um pouco mais nos estudos de geografia está cansado de saber da existência de eficazes sistemas de monitoramento, capazes de indicar com bastante antecedência as alterações climáticas, dando tempo para que as autoridades ajam e a população se previna. Sabe-se, agora que a vaca foi pro brejo, que o sistema que monitora as cheias da bacia do Rio Itajá-Açu está de todo ultrapassado.

Mas não é só. Existem ainda as obras de infra-estrutura que deveriam ser realizadas e não foram. Para não falar dos estudos e planos de ordenamento urbano e rural que foram negligenciados, permitindo a ocupação de áreas e terrenos que não deveriam se destinar a edificações e construções.

E essas questões não estão afetas às divindades ou aos humores da natureza, e sim às autoridades, aos políticos, que quando anões, se comportaram de forma irresponsável, criminosa, vil e canalha.

Resultado da vilania? Economia em frangalhos, milhares de desabrigados, inúmeros desaparecidos, e mais de cem brasileiros mortos.

No Brasil, todos os anos, este tipo de ocorrência costuma martirizar os flagelados, os marginalizados, os que são tangidos para a periferia da periferia, os que não têm moradia digna, e por isto constroem nos morros, encostas, franjas dos rios e cursos d’água... são as vítimas preferenciais dessa categoria de político.

Os fatos mostram que os vampiros não se contentam tão somente com o sangue dos pobres e excluídos. Querem mais, posto que as cidades alagadas de Santa Catarina são áreas estabelecidas, antigas, consolidadas.

Solidária, a população respondeu em uníssono aos chamados de ajuda, não permitindo que a tragédia tomasse dimensões maiores e mais terríveis. Agora, a tarefa é identificar e punir exemplarmente os responsáveis. Desta vez, não devemos permitir que vingue a insidiosa teoria expressa na velha cantilena de que “tudo se deveu ao excesso de chuva, aos humores da natureza”. Não, basta! É preciso vergar e destruir a besta que macula indelevelmente a grande política e enxovalha a alma nacional.